Dois dias depois de festejar dois anos de mandato, o presidente Michel Temer será forçado a lembrar-se nesta quinta-feira (17) de uma data que gostaria de apagar do calendário: 17 de maio de 2017, o dia em que seu governo começou a naufragar. Um ano depois, Temer equilibra-se como pode nos escombros da delação de Joesley Batista, consciente de que ao final do mandato terá um encontro inevitável com a Justiça. Foi também o dia em que desmoronou o império político do senador Aécio Neves, um dos caciques do PSDB.
O Brasil parou para ouvir a voz de Temer, gravada às escondidas por Joesley, dizendo que “tem de manter isso aí” (no caso, o silêncio de Eduardo Cunha) e assistir às imagens da entrega de dinheiro para Rodrigo Rocha Loures, até então um dos homens de confiança do presidente, e para um primo de Aécio, indicado para receber os R$ 2 milhões que ele pedira a Joesley.
Denunciado duas vezes pelo procurador Rodrigo Janot, Temer escapou de um processo no Supremo Tribunal Federal porque obteve o apoio da maioria dos deputados, mas a popularidade despencou, as reformas emperraram no Congresso e o governo passou a viver para se defender das denúncias. Temer teve o sigilo bancário quebrado, seus amigos mais próximos foram presos (e já libertados) e convive com a ameaça de uma terceira denúncia da Procuradoria-Geral da República.
Aécio chegou a ser afastado do mandato e proibido de entrar no Senado, mas conseguiu retornar graças ao Supremo. Depende do resultado da eleição de outubro para que essa investigação continue no STF – outra, sobre irregularidades na construção do Centro Administrativo de Minas, baixou para a 1ª instância com a mudança de entendimento dos ministros sobre o foro.
O Ministério Público Federal também saiu chamuscado. A investigação constatou que o procurador Marcelo Müller fazia o papel de agente duplo, trabalhando para Joesley antes de se desligar do MPF. O acordo de pai para filho fechado com os Batista por Janot revelou-se escandaloso. Os donos da JBS acabaram presos. Foram liberados mas seguem respondendo a processo. A empresa encolheu e o futuro dos irmãos é incerto.
Aliás
O ministro Edson Fachin determinou a abertura de inquérito para apurar se houve crime em doações eleitorais do grupo J&F, holding que controla a JBS, a políticos do MDB em 2014.