A“ponte para o futuro” prometida por Michel Temer à época do impeachment não se materializou, mas são inquestionáveis alguns avanços obtidos nestes dois anos: a inflação e o juro caíram, a economia saiu da recessão, a Petrobras voltou a ser uma empresa lucrativa e o Brasil enfrenta a crise cambial com menos solavancos do que a vizinha Argentina. O problema é que Temer e seus ministros exageram no autoelogio e acabam por virar motivo de chacota.
A história de “20 anos em dois”, inspirada nos 50 anos em cinco de Juscelino Kubitscheck, era de uma megalomania que deveria ter sido limada do rascunho quando apareceu nas primeiras conversas. Como não foi, virou o fiasco do aniversário: o governo teve de desistir do slogan “O Brasil voltou, 20 anos em dois”, porque bastava suprimir a vírgula ou ler sem a entonação imaginada pelo marqueteiro do Planalto para concluir que o país retrocedeu vinte anos entre 2016 e 2018.
A frase mudou para “dois anos de vitórias na vida de cada brasileiro”, o que também soa estranho para um governo que, segundo a recente pesquisa CNT/MDA é considerado ruim ou o péssimo por 71,2% dos eleitores. A avaliação positiva (soma de bom e ótimo) não passa de 4,3%. O desempenho pessoal do presidente é ainda pior aos olhos dos entrevistados: a desaprovação chega a 82,5%.
O balancete das realizações do governo nos 24 meses sob comando de Temer tem 32 páginas ilustradas com gráficos e fotos de pessoas sorridentes e paisagens de catálogo de agência de turismo.
Por que a população não percebe os avanços que o governo comemora e alardeia? A resposta mais óbvia é que, na vida real, pouca coisa mudou em comparação com o governo Dilma Rousseff. A inflação baixou, mas a gasolina não para de subir e a conta do supermercado não caiu. A reforma trabalhista foi aprovada com a promessa de criação de novas vagas no mercado de trabalho, mas o desemprego segue em alta.
Há outra explicação para a impopularidade de Temer. Em vez de combater a corrupção, o governo mostrou-se leniente. Manteve os ministros denunciados por corrupção e o próprio presidente está cercado de suspeitas de envolvimento em irregularidades.