O foro privilegiado não impediu que o senador Aécio Neves (PSDB-MG) virasse réu em ação penal no Supremo Tribunal Federal por corrupção passiva e obstrução de Justiça. O neto de Tancredo Neves, que entrou para política pelas mãos do avô, termina de forma melancólica uma carreira que o levou até perto do topo — a Presidência da República — e descambou para o limbo na esteira de relações incestuosas com empresários corruptos.
A unanimidade na Primeira Turma do STF pela aceitação da denúncia da Procuradoria-Geral da República era o caminho natural diante da gravidade das acusações e da robustez das provas de que recebeu R$ 2 milhões da JBS e ainda tentou atrapalhar as investigações da Operação Lava-Jato. Aécio não só foi gravado pedindo dinheiro a Joesley Batista, como mostrou-se um político de baixa estatura. A linguagem chula usada no diálogo gravado revela um Aécio mais próximo do baixo clero do que da figura que ocupou a presidência da Câmara dos Deputados, governou Minas Gerais por dois mandatos, elegeu-se senador, esteve muito perto do Palácio do Planalto em 2014 e ocupou a presidência nacional do PSDB até cair na delação dos donos da JBS.
A alegação de que estava pedindo um empréstimo a um amigo para pagar advogados, já que é alvo de outras investigações, não comoveu os ministros Marco Aurélio Mello, Luis Roberto Barroso, Alexandre de Moraes, Rosa Weber e Luiz Fux.
Quando combinava com Joesley quem seria indicado para receber o dinheiro da JBS disse que era preciso escolher alguém que pudesse matar depois, para não delatar depois. A frase foi considerada uma brincadeira, mas mostra que não se tratava de um empréstimo lícito, como sustentou a defesa. Se fosse, não precisaria de uma entrega às escondidas.
— Cometi um erro mas não cometi um crime — defendeu-se Aécio em entrevista na segunda-feira.
Em artigo publicado no jornal Folha de S.Paulo, o senador defendeu-se com o mesmo argumento, mas nem seus companheiros de partido se comoveram. Aécio tornou-se um peso para o PSDB. Há muito já não é opção para a Presidência nem para o governo de Minas. Até a candidatura à reeleição está ameaçada e, para não cair na Justiça de 1º grau, poderá ser candidato a deputado federal.
Aécio não é o único senador a ostentar a condição de réu. Ele faz parte do Grupo dos Seis, que pode crescer nos próximos dias. Fará companhia à presidente do PT, Gleisi Hoffmann (PR), ao ex-presidente da República Fernando Collor (PTC-AL), ao líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR). ao ex-presidente do DEM Agripino Maia (RN) e a Valdir Raupp (PMDB-RO).