O julgamento da denúncia contra o senador Aécio Neves (PSDB-MG), nesta terça-feira (17), transformou o senador em réu na Lava-Jato por corrupção e obstrução da Justiça.
A votação foi considerada um teste para o acordo de delação premiada fechado em 2017 pelo empresário Joesley Batista e outros executivos da JBS com a Procuradoria-Geral da República (PGR). Foi a primeira vez que o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que aceita provas obtidas com a delação.
Uma das gravações de maior repercussão do acordo mostra o tucano pedindo R$ 2 milhões a Joesley para pagar despesas com a sua defesa na Lava-Jato. O diálogo, de cerca de 30 minutos, é recheado de outras declarações polêmicas, como a resposta de Aécio depois de o empresário aceitar fazer o pagamento a alguém de confiança:
— Tem que ser um que a gente mata ele antes de fazer delação. Vai ser o Fred com um cara seu. Vamos combinar o Fred com um cara seu porque ele sai de lá e vai no cara.
Fred foi apontado pela investigação como Frederico Pacheco de Medeiros, primo do senador e um dos coordenadores de sua campanha em 2014.
O encontro entre o executivo e Aécio teria ocorrido em 24 de março, em um hotel em São Paulo. A seguir, relembre como foi a conversa.
Leia a transcrição de um trecho da gravação:
Joesley – Deixa eu te falar dois assuntos aqui, rapidinho. É... a tua irmã (Andrea Neves) teve lá.
Aécio – Obrigado por ter recebido ela lá.
Joesley – Tá... ela me falou de fazer dois milhões (R$ 2 milhões), para tratar de advogado... Primeira coisa, não dá para ser isso mais. Tem que ser....
Aécio – É?
Joesley – Tem que ser. Eu acho pelo que a gente tá vendo tudo, para mim e para você... vai ser, a primeira coisa.
Aécio – Porque os dois que eu tava pensando era trabalhar (no processo).
Joesley – Eu sei, aí é que tá.
Aécio – Assim ó, toma, não tem, pronto. Primeira coisa. Eu consigo (...) que é pouco, mas é das minhas, é das minhas lojinhas, que eu tenho, que caiu a venda para caralho (risos).
Joesley – É, rapaz, isso aqui era 700, 800.
Aécio – Como é que a gente combina?
Joesley – Tem que ver, você vai lá em casa ou...
Aécio – O Fred.
Joesley – Se for o Fred eu ponho um menino meu para ir. Se for você, sou eu (risos). Só para...
Aécio – Pode ser desse jeito (risos).
Joesley – Entendeu. Tem que ser entre dois, não dá para ser...
Aécio – Tem que ser um que a gente mata ele antes dele fazer delação (risos).
Joesley – (Risos) Eu e você. Pronto... ou Fred e um cara desses... Pronto.
Aécio – Vamos combinar o Fred com um cara desse. Porque ele sai lá e vai no cara. Isso vai me dar uma ajuda do caralho. Não tenho dinheiro para pagar nada (...). Sabe, porque eu tenho que segurar esse advogado. (...) Por que não tem mais, não tem ninguém que ajuda.
Joesley – E do jeito que tá...
Aécio – Antes de ter mandado a Andréa lá eu passei 10 noites sem dormir direito. Falei não vou não porque o cara já me ajudou para caralho. Mas não tem jeito, eu vou entrar numa merda dessa sem advogado?
Joesley – Você tá certo.
Aécio – Faz como?
Joesley – Pronto. O menino entre em contato com o Fred.
Aécio – O menino liga pro Fred. O Fred já sai de lá e já deixa na casa do cara e acabou.
Joesley – Pronto. Quinhentos (R$ 500 mil) por semana pá pá pá. Eu acho que eu consigo. A partir da semana que vem.
Aécio – Primeiro liga pro Fred.
Joesley – Pronto, eles se acertam.