Liquidada a carreira política de Aécio Neves já estava desde que tornou-se réu por corrupção e obstrução da Justiça, no Supremo Tribunal Federal. Até a alternativa de concorrer a deputado federal para manter o foro privilegiado está ameaçada. As revelações das últimas horas não só aprofundam o poço em que Aécio está mergulhado, como ameaçam tragar o PSDB para o pântano. A derrocada de Aécio coincide com a abertura de inquérito no Ministério Público de São Paulo para investigar o ex-governador Geraldo Alckmin, pelo recebimento de R$ 10 milhões de caixa 2 da Odebrecht.
O partido que nos últimos 24 anos ganhou duas eleições presidenciais (1994 e 1998, com Fernando Henrique Cardoso) e disputou o segundo turno nos quatro pleitos seguintes amarga um desempenho pífio nas pesquisas, com Alckmin. A preocupação dos tucanos é evitar que a derrocada de Aécio contagie não só a candidatura de Alckmin, como a dos companheiros que disputam as eleições para governos estaduais, caso de Antonio Anastasia em Minas Gerais, João Doria em São Paulo e Eduardo Leite no Rio Grande do Sul.
Depois da decisão desfavorável no Supremo, vieram à tona novas denúncias contra Aécio, como se a condição de réu do antes poderoso senador tivesse aberto a caixa de Pandora. A Folha de S.Paulo revelou que em um complemento de sua delação premiada, Joesley contou que durante dois anos (de 2015 a 2017) repassou R$ 50 mil por mês a Aécio a título de serviços de publicidade à Rádio Arco-Íris, da qual o tucano era sócio. A rádio em questão é a proprietária da Land Rover em que o senador foi flagrado numa blitz da Lei Seca, no Rio, e não quis fazer o teste do bafômetro. O veículo de comunicação é o mesmo que Aécio vendeu à irmã Andrea por R$ 6,6 milhões em setembro de 2016.
Em depoimento à Polícia Federal, na terça-feira, Sérgio Andrade, um dos acionistas da Andrade Gutierrez, contou que um contrato de R$ 35 milhões firmado em 2010 entre a empreiteira e uma empresa de Alexandre Accioly tinha como objetivo repassar recursos a Aécio, seu compadre.
Como se isso fosse pouco, o ex-ministro da Justiça Osmar Serraglio acusou o senador de pressionar pela nomeação de um delegado da Polícia Federal para barrar as investigações da Lava-Jato. Serraglio atribuiu a Aécio e ao senador Renan Calheiros (PMDB-AL) sua queda no Ministério da Justiça, mas disse ao jornal O Globo que só vai detalhar as pressões que sofreu quando for chamado a depor como testemunha. É fato que na conversa gravada por Joesley o senador fala mal de Serraglio, usando palavrões impublicáveis, e reclama que o então ministro não controlava a Polícia federal e a Lava-Jato.
Aliás
Pela primeira vez desde 1994 é real a possibilidade de PT e PSDB, protagonistas das últimas seis eleições, não conseguirem chegar ao segundo turno.