Encerro neste domingo uma viagem de 19 dias. Sem ter saído do Rio Grande do Sul e sem interromper meu trabalho ordinário, viajei no tempo e no espaço pelas páginas de livros empoeirados ou ainda com cheiro de novo. A primeira parte dessa missão está encerrada: o último capítulo do projeto Leituras da Feira é O Rastro do teu Sangue na Neve, um conto de Gabriel García Márquez, que considero uma obra-prima.

A viagem começou pelo Recife, com Clarice Lispector declarando sua paixão pela leitura. Voei para o início do século 20 e desembarquei no Rio de Janeiro de Lima Barreto, para no dia seguinte fazer escala na Porto Alegre de Sergio Faraco, para tomar chá no Bar Nevada com um casal que protagoniza um ensaio sobre a solidão. 

Andei pela Fronteira com Mario Quintana, matei leões metafóricos com Moacyr Scliar. Comi, bebi e gargalhei com o inigualável Luis Fernando Verissimo. No dia seguinte, correndo pelo Pampa, guiada por Simões Lopes Neto, tomei as dores do Negrinho do Pastoreio. De volta a Porto Alegre, deixei-me guiar pelas mãos de Cintia Moscovich para ouvir um cego ao piano.

 Fui aos confins do Uruguai com Mario Arregui e vi um homem no fundo do poço. Nova viagem ao passado e acompanhei Machado de Assis numa visita à cartomante que adivinha destinos. Passei três dias flutuando na leveza de Fernando Sabino, Cecília Meirelles e Rubem Braga. Voei para a Argentina e tangenciei o universo de Jorge Luis Borges. No vizinho Uruguai, Juan José Morosoli apresentou-me um viúvo inesquecível. Na volta, Aldyr García Schlee mostrou-me as lembranças do dia em que o papa foi a Melo.

Na carona de Claudia Tajes subi a BR-386 (morrendo de rir) atrás de um jogador de futebol. Na penúltima etapa dessa viagem, Lygia Fagundes Telles levou-me a uma pensão ordinária, onde um moço tirava notas tristes de um saxofone. Encerro a jornada de mãos dadas com Gabriel García Márquez, vendo a neve dos Pireneus manchada do sangue que escorre da mão de Nena Daconte, ferida pelo espinho de uma rosa. 

Se  você quiser fazer essa viagem por contos e crônicas acessando apenas o celular, o tablet ou o computador, ponha os fones e entre em gauchazh.com/leiturasdafeira.

Para ouvir:

1. "Felicidade Clandestina", de Clarice Lispector
2. "Queixa de Defunto", de Lima Barreto
3. "A Dama do Bar Nevada", de Sergio Faraco
4. "Coisas & Pessoas", de Mario Quintana
5. "Os Leões", de  Moacyr Scliar
6. Três crônicas do livro "A Mesa Voadora", de Luis Fernando Verissimo
7. "O Negrinho do Pastoreio", de João Simões Lopes Neto
8. "Fantasia-Improviso", de Cíntia Moscovich
9. "Cavalos do Amanhecer", de Mario Arregui
10. "A Cartomante", de Machado de Assis
11. "Eloquência Singular", de Fernando Sabino
12. "Liberdade", de Cecília Meirelles
13. "Os Amigos na Praia", de Rubem Braga
14. "Emma Zunz", de Jorge Luis Borges  
15.  "O viúvo", de Juan José Morosoli
16. "O Dia em que o Papa foi a Melo", de Aldyr Garcia Schlee
17. "(Quase) Abençoado por Deus", de Claudia Tajes  
18.  "O Moço do Saxofone", de Lygia Fagundes Telles
19.  "O Rastro do Teu Sangue na Neve", de Gabriel García Márquez