Nunca antes da entrevista ao Gaúcha Atualidade, nesta sexta-feira, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, havia sido tão claro em relação a seu papel no tabuleiro da eleição de 2018: ele não é pré-candidato assumido, como Geraldo Alckmin, Lula e Jair Bolsonaro, mas não descarta concorrer a presidente. A única coisa que não está nos seus planos é ser o vice de Luciano Huck ou de quem quer que seja.
Meirelles não é pré-candidato hoje, início de novembro. Amanhã, quem sabe? Na entrevista à Rádio Gaúcha o ministro deu várias pistas de que está no baile esperando um convite para dançar. O primeiro ponto é uma questão semântica: há diferença entre pré-candidato e presidenciável? Sim. Pré-candidato é o que está se preparando para concorrer. Presidenciável é alguém que reúne as condições para a tarefa de governar um país com a complexidade do Brasil e pode ser chamado por um partido ou grupo político para assumir o papel de candidato.
Meirelles se autodeclara candidato a uma boa gestão da área econômica. Cita os resultados obtidos desde que assumiu o cargo de ministro da Fazenda, como a queda da inflação e da taxa de juros, a retomada do crescimento e o aumento do nível de emprego, ainda que bem abaixo do desejável. Para ser candidato é preciso que a economia decole, mas só isso não basta para ser um concorrente competitivo.
A par das virtudes aplaudidas pelo mercado e da confiança que inspira nos temerosos de entregar o comando de um Airbus A-380 a quem nunca pilotou um teco-teco ou a quem corre o risco de ter o brevê cassado antes da decolagem, o ministro tem limitações difíceis de serem superadas em tão curto espaço de tempo.
A rigor, restam cinco meses para Meirelles provar que é competitivo. Ministros candidatos devem deixar o cargo até os primeiros dias de abril (ele fala em 31 de março). O primeiro é superar sua dificuldade de comunicação com o eleitor comum. O discurso que encanta empresários não é o mesmo que seduz trabalhadores assustados com a reforma da Previdência e pouco familiarizados com os benefícios do ajuste fiscal. Da dicção travada ao discurso técnico, Meirelles precisa de traquejo político para entrar numa campanha em que o eleitor desencantado procura um salvador da Pátria e mostra inclinação pelas promessas fáceis — e vazias.
Caso venha a ser candidato, Meirelles carregará pelo menos uma parte da impopularidade de Michel Temer. O apoio do PMDB, essencial para garantir o tempo de TV e a capilaridade que o PSD não tem, traz embutido o histórico de envolvimento dos principais líderes do partido com a Lava-Jato.
A biografia do ministro, que chegou ao topo da carreira no mercado financeiro ao assumir a presidência mundial do BankBoston, não é suficiente para empolgar o eleitor comum. Banqueiro, ex-integrante do conselho de administração do Grupo J&F, presidente do Banco Central no governo Lula e ministro da Fazenda de Temer, Meirelles é um prato cheio para os adversários. O sinal mais evidente de que o ministro sonha com o Planalto é a forma como tentar contornar — e minimizar — sua relação com a JBS.
Aliás
Ao deixar a porta aberta para a candidatura, Meirelles acrescenta um obstáculo a mais à já difícil aprovação da reforma da Previdência. O sucesso de um potencial presidenciável não interessa aos concorrentes.