Sem nada para oferecer aos servidores públicos que ameaçam paralisar os serviços públicos hoje, o governador José Ivo Sartori pediu à população que não entre em pânico. Em um vídeo criticado pelos sindicalistas, disse esperar que as manifestações ocorram de forma ordeira e pacífica. E deixou no ar uma ameaça:
– Não vamos tolerar qualquer ato de desobediência. Pela primeira vez, Sartori disse publicamente, sem citar nomes, o que costuma repetir nas conversas com os secretários: que a culpa pelo caos das finanças é do governo Tarso Genro, por ter dado aumentos incompatíveis com a realidade das finanças, em parcelas que vão até 2018.
– Todos sabem que esse quadro se agravou muito no governo anterior – disse Sartori no vídeo. Na discussão do acordo de resultados, na terça-feira, secretários pediram que Sartori seja mais incisivo na responsabilização do governo Tarso, já que, em 2008, Yeda Crusius anunciou o déficit zero e antecipou o 13º salário.
Para os servidores, esse discurso entra num ouvido e sai no outro. Quem está com o salário atrasado não quer saber de quem é a culpa. Quer uma resposta para a pergunta que Sartori não tem como responder: até quando vai continuar atrasando salários? O grande problema do governador é convencer os funcionários do Executivo de que não há dinheiro para pagar em dia, se a crise não chega ao quintal da Assembleia, do Judiciário, do Ministério Público, do Tribunal de Contas e da Defensoria. Além de não enfrentar o parcelamento, os servidores desses poderes e instituições ganharam reajuste de 8,13%, retroativo a janeiro.
Mesmo que Sartori tenha vetado a correção, para quem só recebeu R$ 1.780 até agora fica a sensação de que o governo fez uma opção. Porque, se é ilegal não repassar integralmente a fatia dos outros poderes, atrasar salários também é irregular.
Como a situação tende a se agravar no final deste mês, a tendência é de que o governo parcele o repasse para os outros poderes, mesmo sabendo que um juiz tem poder para sequestrar recursos nas contas do Estado. Seria uma resposta política à cobrança dos funcionários do Executivo.