Em um incomum rompante de bom senso, os líderes partidários no Senado informaram nesta quinta-feira que o reajuste dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), aprovado pela Câmara e em tramitação na Casa, foi para o fim da fila de prioridades legislativas dos próximos meses. O aumento do subsídio dos magistrados, que saltaria de R$ 33,7 mil para R$ 39,2 mil, provocaria um efeito cascata de grandes dimensões nas contas dos Estados, já com as finanças combalidas. Além disso, conceder elevação salarial àqueles que estão no topo das carreiras do funcionalismo público em meio a um momento de crise econômica vai na contramão do discurso de austeridade apregoado pelo governo interino de Michel Temer.
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Na quarta-feira, o Senado aprovou o aumento aos servidores do Poder Judiciário e do Ministério Público da União, com impacto calculado em R$ 2 bilhões em 2016. A diferença em relação à situação dos ministros do Supremo é que havia previsão orçamentária para o pagamento do reajuste. Embora não tenha feito esforço suficiente para impedir a aprovação dos projetos na Câmara dos Deputados, o Planalto resolveu direcionar forças contra as propostas a partir de agora. Na semana que vem, o ministro interino do Planejamento, Dyogo de Oliveira, irá à Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) conversar com os senadores a respeito da perspectiva de gastos com o projeto dos ministros do STF e os demais reajustes a servidores públicos do Executivo. A conta é salgada: chegaria a R$ 100 bilhões em quatro anos.
O senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) disse que, na sua avaliação, "não há chance" de o aumento dos ministros ser aprovado, porque "o Brasil está sem dinheiro". A opinião do tucano é compartilhada por outros senadores da base, como Fernando Bezerra (PSB-PE) e Ronaldo Caiado (DEM-GO).
Resta saber se os parlamentares resistirão ao intenso lobby do comando do Supremo, que costuma funcionar, já que os ministros receberam três aumentos salariais nos últimos três anos, além do pagamento de auxílio-moradia e outros benefícios.
* A colunista titular, Rosane de Oliveira, está em férias.