Encerro aqui, em Baku, a minha quinta cobertura de Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, as COP. Antes, foram Buenos Aires (COP10, 2004), Montreal (COP11, 2005), Bali (COP13, 2007) e Dubai (COP28, 2023).
Nas três primeiras, eu era repórter iniciante em temas ambientais: editava um caderno chamado Ambiente, em ZH, e as COP eram mais conhecidas pelo que ocorria fora da bolha da conferência do que pelos debates em si, principalmente os atos pirotécnicas dos ambientalistas, os protestos dos países-ilhas, alguém fantasiado de urso polar que sempre aparecia no portão do evento.
Comecei na 10ª edição, mas, no total, lá se vão 29 conferências do clima. O Protocolo de Kyoto venceu, as pessoas ainda não separam o lixo de forma adequada e muita gente ainda nega o impacto humano nas alterações do clima. Mas há avanços: as NDCs, o mercado de carbono, o engajamento do agronegócio nos debates a partir do Grupo de Koronívia, a inclusão da sustentabilidade na governança das empresas.
O quase fracasso de Baku não pode ensombrecer a trajetória até aqui. Se a ONU não consegue evitar guerras, como a da Ucrânia ou do Oriente Médio, ao menos o concerto do clima caminha - a passos lentos, é verdade, mas avança. Pode-se discutir o formato das COPs, sua frequência e efetividade, mas questionar sua existência é entregar o mundo à ganância do cada um por si - e, de alguma forma, todos perderão.
O Brasil em geral e Belém em particular têm desafios hercúleos de infraestrutura para sediar a COP30. Muito se fala da rede hoteleira da capital paraense, mas em Baku também faltaram cômodos - e muitos eram de péssima qualidade. O acesso funcionou graças ao transporte público eficiente, com ônibus reservados para os participantes - de graça - e faixas exclusivas nas vias, que permitiam fugir dos congestionamentos. A segurança também foi ponto positivo - mas estamos falando de um país autoritário, com ecos soviéticos, então, é comum o militarismo nas ruas. Intramuros, o exército de voluntários foi o que fez a diferença: centenas de jovens compensavam o inglês precário com o sorriso. A gentileza, a simpatia de um povo, é, sem dúvida, o maior ativo do soft power de uma nação. Nisso, os azeris deram de goleada.
Ouvi, dias atrás, que, passadas as COP, ninguém lembra se o hotel era bom ou ruim, se havia filas intermináveis e se o preço da comida era cara (aqui em Baku, era muito cara). O que fica de legado é a agenda. As pessoas lembram que foi em uma Paris marcada pelos atentados de 2015 que foi fechado o acordo que norteia os debates atuais do clima, que foi em Glasgow que foi estabelecida a meta de redução das emissões de CO2 em 45% até 2030 e neutralidade da emissão de carbono até 2050. Depois de três COPs em países autoritários, a da Amazônia tem a oportunidade de ser a mais democrática, a mais conectada com o tema de que todos falam e poucos conhecem - a floresta - e, por que não, a mais efetiva.