O Azerbaijão, de onde escrevo esse texto, compartilha 284 quilômetros de fronteira com a Rússia.
Apesar de toda a sobriedade que se observa nas largas avenidas e dentro dos muros da COP29, que as Nações Unidas decidiram realizar aqui, pode-se dizer tudo, menos que estamos, geopoliticamente, em um lugar tranquilo.
Há uma escalada dramática na guerra entre a Rússia e a Ucrânia. Os últimos cinco dias valeram quase que pelo ano inteiro.
Vejamos: no domingo, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, teria autorizado o emprego de armas americanas em profundidade no território russo. Isso significa mísseis balísticos ATACMS MGM-140, de alcance de até 300 quilômetros.
O ato levou o presidente russo, Vladimir Putin, a revisar sua doutrina de uso de armas atômicas, prevendo retaliação no mesmo nível. Pior: inclui como alvo da resposta países e alianças que apoiem tal ação alvos legítimos. Leia-se: Otan.
Na terça-feira, a Ucrânia realizou o primeiro ataque contra a 150 quilômetros dentro do território russo. Aberta a porteira, no dia seguinte, o governo de Volodimir Zelensky usou, pela primeira vez, mísseis britânicos contra a Rússia.
Qualquer uma dessas armas "novas" usadas pela Ucrânia depende do sistema de guiagem da aliança atlântica. Daí, o cálculo que causa arrepios: indiretamente (ou nem tanto), o ataque à Rússia, dessa vez, pode ser lido como uma ação da Otan. Logo, qualquer um dos 32 países membros da aliança está sujeito a se tornar alvo de Moscou - os mais prováveis, Estônia e Polônia.
Por enquanto, a situação está no nível dos sinais políticos - não menos perigosos. Nesta quinta-feira (21), a Rússia elevou ataques aéreos a novo patamar, com o uso do míssil identificado pela força aérea ucraniana como RS-26, de médio alcance, contra a cidade de Dnipro. O detalhe: carregava armas convencionais, mas foi desenhado para transportar ogivas nucleares. Mais especificamente, quatro, com potência equivalente, cada uma, a 20 bombas de Hiroshima.
Dá para entender o temor da Europa. E é possível compreender porque, com a guerra tão perto, não é só o risco de a COP29 terminar em retrocesso que deveria preocupar a todos.