A direita mundial — e o bolsonarismo em particular — está energizada com a vitória de Donald Trump nos Estados Unidos. Política externa não costuma render votos em eleição — Kamala Harris que o diga. Dá para contar nos dedos eleitores americanos que tenham escolhido, na terça-feira, um ou outro candidato por Gaza ou pela Ucrânia.
Apesar disso, seguidores de Jair Bolsonaro e de Lula se mobiliaram em maior ou menor graus no Brasil em relação ao pleito nos EUA. Alguns motivados pelos próprios ex e atual presidentes, é verdade. Bolsonaro declarou apoio a Trump, e Lula, à Kamala, e os apoiadores de cada um seguiram seus líderes, mais uma vez, ignorando as diferenças gritantes entre os dois países.
Não adianta, o novo esporte brasileiro preferido é nacionalizar qualquer tema: da guerra na Ucrânia, passando pelo terrorismo no Oriente Médio e chegando à ditadura na Venezuela — versão recente da antiga preferência nacional, o regime cubano.
No caso de Bolsonaro, ele sempre emulou Trump, é natural que vibre, como no estádio de futebol, pela vitória do republicano. Isso ocorre um pouco por afinidade ideológica, outro pouco porque o ex-presidente acredita que, com Trump nos EUA (e Elon Musk de ministro extraordinário), haverá algum tipo de pressão americana (ou interna) para a revisão de sua inelegibilidade.
Por razões pragmáticas – como Netanyahu – ou ideológicas – como Bolsonaro, Javier Mijei, Viktor Orban e Giorgia Meloni –, muitos celebraram o retorno de Trump. O mundo está muito mais conservador do que se imagina. De forma geral, o eleitor não quer discutir temas como democracia, direitos das mulheres ao aborto ou do LGBTQI+. Quer dinheiro no bolso, poder aquisitivo. Exaustos da globalização – dos “empregos roubados pela China” ou por migrantes –, quer dinheiro no bolso. Deus, pátria, família e liberdade até têm algum valor, mas o que fala mais alto é poder de compra.
O PT não é o Partido Democrata, e os republicanos nos EUA passam longe do bolsonarismo. Mas, se alguma comparação é possível, essa passa pela necessidade da esquerda, lá e aqui, de não se restringir à Academia e se descapsular da elite intelectual. Precisa se reconectar com as bases. Embora o eleitor, mais uma vez lá e aqui, seja cada vez mais jovem, mestiço e com grau de instrução superior, o que favorece os democratas nos EUA e a esquerda por aqui, quem ainda decide é a classe média baixa, assalariada e órfã da globalização.
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