O Plano de Desenvolvimento Econômico, Inclusivo e Sustentável, anunciado com pompa e circunstâncias pelo governo do Estado nesta quarta-feira (30), é robusto e ousado. Pena que chega a dois anos do final do mandato do governador Eduardo Leite. Merecia - e essa é a expectativa do Piratini - ser um plano de Estado, e não de governo. Seria desejável que houvesse alguma perenidade, algo raro de ocorrer na política brasileira em geral e na gaúcha, em particular
— O desafio é fazer dar certo. Quando dá certo, a própria sociedade cobra a manutenção — disse em conversa com jornalistas, no Museu Iberê Camargo, o vice-governador Gabriel Souza, ele próprio cotado para a sucessão de Leite.
O resultado material, palpável, do plano é a criação de uma Agência de Desenvolvimento, a Invest RS, capaz de atrair investimentos e fazer a promoção comercial - ou seja atrair empresas e fazer com que essas empresas vendam para fora do Estado. E a meta: atingir taxa de crescimento anual do PIB de 3% até 2030. Para efeitos de comparação, o crescimento gaúcho real do PIB ficou em 1,6% ao ano entre 2002 e 2021. É possível chegar lá em seis anos? Uruguai, Polônia e Romênia fizeram, diz o governo.
O diagnóstico, feito pela consultoria McKinsey, é duro de se ouvir:
- Temos um crescimento baixo e díspar (maior concentração econômica e industrial na Região Metropolitana e Serra, mas com menor PIB per capita nas outras regiões);
- Temos um ambiente de negócios menos favorável do que outros Estados, em destaque na comparação como Santa Catarina, que atraiu 2 milhões de pessoas nos últimos anos;
- Há um movimento migratório muito grande. Ou seja, as pessoas estão saindo do Rio Grande do Sul para viver e trabalhar em outros Estados;
- Infraestrutura;
- E sofremos com eventos extremos - secas e enchentes.
O mapa do caminho passa por:
- Aposta em setores da economia que já garantem sustentação da economia gaúcha, como o agronegócio, mas também em diversificar e complexificar outras cadeias produtivas, que o Piratini aposta como de "ascensão", e de "inovação", como expansão de capacidades e produção atuais nas áreas automotivas, produtos de transição energética, máquinas, equipamentos e semicondutores e produtos e serviços digitais;
- Atração e retenção de pessoas: o RS tem de se tornar um lugar aprazível para se viver e trabalhar. Pelo diagnóstico, é necessário empregar entre 699 mil e 840 mil pessoas - a única forma é atrair mão de obra para o Estado;
- Expansão das escolas em tempo integral;
- Educação técnica e profissional;
- Fortalecimento do sistema de inovação;
- Criação de um ambiente de negócios favorável;
- Melhora da infraestrutura, como estradas e hidrovias;
- Maior resiliência: precisamos aprender a lidar com as mudanças climáticas.
Obviamente, não se faz isso em dois anos de mandato - e o governo teve seis, no total. Também não se faz sem um começo, como o lançamento desta quarta-feira (30), e sem inclusão da sociedade. Mas, principalmente, não se chega lá sem que sejam superadas rusgas político-ideológicas e a desgastada mentalidade de caranguejo.
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