O jogo de ação e reação entre Israel e Hezbollah tem potencial de incendiar o Oriente Médio, transformando o conflito israelense-palestino em uma guerra regional, com impactos extrarregionais. O risco está em dois pontos: a capacidade de expansão muito rápida de episódios violentos, que ganham ondas cíclicas; e as alianças entre grupos terroristas e potências globais.
Vejamos o primeiro ponto: os interesses, posições políticas e radicalismos têm capacidade, muito rápida, de tornar um fato importante, traumático, mas limitado do ponto de vista geográfico, em uma grande catástrofe. A invasão do grupo terrorista Hamas, em 7 de outubro de 2023, por exemplo, atraiu para a Faixa de Gaza a reação israelense. Mas os combates não ficaram restritos ao miserável território palestino espremido entre o Negev e o Mar Mediterrâneo. A frente Norte, com o Líbano, já era uma ameaça presente devido aos frequentes ataques do Hezbollah ao território israelense e ao não resolvido confronto de 33 dias de 2006.
A caçada israelense aos líderes do Hamas, com ações de inteligência para neutralizar terroristas dentro de territórios de países soberanos - como a morte do líder do grupo extremista, Ismail Haniyeh, no Irã, e a detonação dos pagers, no Líbano, eleva o conflito para além das fronteiras israelenses - e do território ocupado de Gaza.
Os grupos terroristas têm alianças entre si. Hamas, Hezbollah e os houtis, que atuam no Iêmen, fazem parte de um grande arco de organizações extremistas - todas xiitas, com exceção do Hamas (sunita). Uma das diferenças que acrescenta maior agressividade ao confronto entre Israel e Hezbollah é o fato de a organização libanesa, um Estado paralelo, é muito mais forte, mais armado e maior do que o Hamas.
Os três grupos são os braços armados, que têm como cabeça o Irã dos aiatolás. Isso nos leva ao segundo ponto: as relações com potências globais. O governo fundamentalista iraniano é apoiado por Rússia e China, antagonistas dos Estados Unidos.
Essas organizações têm como objetivo fundador a negação da existência de Israel, que, por sua vez, tem nos americanos seus principais aliados.
Daí a ameaça de tudo transbordar para um conflito ao estilo da Rússia x Ucrânia e seus braços regionais. Uma guerra por procuração, ou proxy war em inglês, é um conflito armado em que um país ou grupo de países apoia e financia outros grupos ou países para lutar em seu nome, evitando assim a participação direta e a responsabilidade pela guerra.
Enquato estiver na Casa Branca, Joe Biden tem atuado para, por um lado, dissuadir o Irã de ataques mais contundentes e, por outro, segurado a mão pesada de Benjamin Netanyahu. A variável que pode fazer a diferença na região, em novembro, é a possível vitória de Donald Trump na eleição americana. Alinhado ideologicamente a Netanyahu, o ex-presidente, vitaminado pelas urnas, pode dar sinal verde para Israel reforçar as ações militares - o que, pelo lado do Irã ou da Rússia, irá provocar reações incalculáveis.