Tanto Israel quanto o Irã têm elementos suficientes para saírem do final de semana de tensão com narrativas vitoriosas para seus públicos domésticos.
Do lado iraniano, os aiatolás, ao lançarem seu enxame de drones contra Israel, deram ao setor mais linha-dura do regime a resposta que esse grupo exigia, depois do bombardeio de sua representação diplomática em Damasco, na Síria, em 1º de abril. A ofensiva não causou danos à infraestruturua israelense, mas, por várias horas entre a noite de sábado e a madrugada de domingo, o mundo prendeu a respiração, enquanto os drones suicidas rasgavam os céus do Oriente Médio. Foi também o primeiro ataque direto do Irã a Israel desde a Revolução Islâmica, de 1979, o que é um recado importante para o mundo - até agora, as ações eram feitas por meio de procuração (proxy), por Hamas, Hezbollah e Houthis. Caiu o véu. Israel é o mais poderoso exército da região, mas o Irã é o terceiro, atrás do Egito.
Do lado israelense, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu também tem sua narrativa de vitória sobre os aiatolás para apresentar a seu grupo mais conservador do gabinete. Dos mais de 300 aparelhos voadores lançados contra Israel, 99% dos drones foram abatidos - alguns por caças dos EUA e do Reino Unido nos espaços aéreos de Iraque e Jordânia, mas muitos pelo Iron Dome (Cúpula de Ferro), o poderoso sistema antimíssil de Israel. Com exceções de guerras, nunca o aparato de defesa aérea israelense havia sido tão exposto à prova quanto neste final de semana - na Guerra do Golfo, em 1991, quando Saddam Hussein disparava seus mísseis Scuds contra Israel, a defesa era feita pelos Patriot americanos. E, desde que a Cúpula de Ferro fora desenvolvida, depois da guerra com o Líbano, em 2006, o aparato havia sido usado, até agora, para proteger Israel de foguetes lançados por grupos terroristas, como o Hezbollah e o Hamas, nunca em defesa de um outro Estado, como ocorreu agora. Nenhuma morte, nenhum dano estrutural. Só esses resultados já são algo de que Netanyahu possa se vangloriar.
Ao mesmo tempo, do ponto de vista simbólico, Israel tem a seu favor as imagens das explosões no céu sobre o Domo da Rocha, a mesquita de cúpula dourada, um dos cartões-postais de Jerusalém: um país islâmico atacando o terceiro local mais sagrado do Islã (ali ao lado fica a mesquita de Al-Aqsa) é uma narrativa poderosa junto a nações árabes.
O novo capítulo da guerra chega em um momento em que Netanyahu tem sido bastante criticado pela crise humanitária em Gaza. Há manifestações em Tel Aviv contra o conflito com o Hamas - lá se vão seis meses dos ataques terroristas e muitos reféns ainda não voltaram para casa. O capital político já não é o mesmo do início da crise. Internamente, fala-se em antecipação das eleições, previstas inicialmente para 2026. E o governo Joe Biden tem, cada vez mais, se afastando de Netanyahu, depois que percebeu que o apoio irrestrito às ações militares causaria estragos eleitorais.
Ao mesmo tempo, percebe-se o isolamento do Irã na região. A Jordânia chegou a abrir seu espaço aéreo para que Israel abatesse os drones antes que eles alcançassem a fronteira. Além disso, os Acordos de Abrahão trouxeram para o lado israelense Marrocos, Emirados Árabes Unidos e Bahrein. O próximo seria a Arábia Saudita, o berço do Islã.