Se 2023 foi intenso, espere por 2024. Em todo o mundo, serão pelo menos 70 eleições - entre elas, oito na América Latina, além de pesos pesados da geopolítica, como Estados Unidos e Rússia.
Há duas grandes guerras em andamento - entre Rússia e Ucrânia, cujo cenário parece estagnado, e entre Israel e o Hamas, confronto que foi elevado a novo patamar com o atentado terrorista de 7 de outubro.
A seguir, uma leitura do cenário político para o ano que se aproxima.
Biden x Trump, segundo round
Os americanos vão às urnas em 5 de novembro, mas, como de costume, a corrida presidencial começa bem antes, com as prévias partidárias. A largada, também como é tradição, será em Iowa, em março. Os candidatos estão praticamente definidos e provavelmente veremos uma repetição do confronto de 2022, entre Joe Biden e Donald Trump. A grande incógnita será se o ex-presidente conseguirá manter a candidatura, driblando decisões judiciais que se acumulam, mas que, até agora, não são suficientes para barrá-lo.
Oito eleições na América Latina
Na América Latina, serão nada menos do que oito eleições. Além das municipais no Brasil, vale destacar três pleitos presidenciais que mexem com a política regional: Venezuela, Uruguai e México. No reino de Nicolás Maduro, onde não há democracia, a líder opositora Maria Corina Machado tenta driblar as iniciativas do governo e viabilizar sua candidatura.
Um acordo firmado em Barbados definiu parâmetros para o pleito e previu, entre outras ações, convite a outros países para observar o processo, atualização dos registros eleitorais e liberdade de imprensa. Nossos vizinhos uruguaios também vão eleger o sucessor de Luis Lacalle Pou, com a Frente Ampla (oposição, de esquerda) com chances de voltar ao poder. No México, há uma certeza: o país terá a primeira mulher como chefe de Estado: a ex-prefeita da capital Claudia Sheinbaum (candidata do governo, de Andrés Manuel López Obrador) enfrentará a senadora Xóchitl Gálvez, que lidera a coalizão de oposição.
Guerra nas barbas do Brasil?
O temor de uma guerra na fronteira Norte do Brasil, na região de Essequibo (Guiana) foi amenizado nos últimos dias, mas as tensões voltarão em 2024 - e durarão até a eleição na Venezuela já que essa é uma jogada de Nicolás Maduro para atiçar o nacionalismo de seus conterrâneos. Nos últimos dias, o Reino Unido enviou um navio de guerra à região, gesto visto por Maduro como de provocação. O risco de um gesto mal calculado de qualquer um dos lados levar a um conflito armado é real.
O teste de Putin
Outra eleição pra ficar de olho: a Rússia. Por tudo que ela representa, mas principalmente pelo futuro da guerra na Ucrânia. Vladimir Putin deve ser candidato de novo. E, se ganhar, poderá ficar no poder até, pelo menos, 2030.
A Comissão Eleitoral da Rússia vetou a candidatura à eleição presidencial da jornalista e ex-vereadora Yekaterina Duntsova, ativista pró-democracia que defende o fim da ofensiva na Ucrânia. Alguma dúvida de que Putin vai vencer?
O futuro da guerra na Ucrânia
Passados quase dois anos de guerra, a invasão russa já provocou mudanças no mapa da Ucrânia. Pelo menos 20% do território do país está ocupado. A Rússia tem mais condições de manter a guerra por longo prazo. A situação para os ucranianos está mais complicada. Como a Ucrânia não poderá vencer sem o apoio dos aliados ocidentais, muito do futuro da guerra passa pela eleição nos EUA: se Trump concorrer e vencer, por exemplo, deve retirar o apoio financeiro ao país de Volodimir Zelensky. Mesmo a base de Joe Biden tem se mostrado cada vez menos disposta aa despejar bilhões de dólares em um conflito estagnado.
Paz no horizonte do Oriente Médio?
O dinheiro dá uma dica de até quando vão os conflitos. No caso da guerra entre Israel e Hamas, um cálculo do Ministério das Finanças de Israel projeta que o confronto deve se estender até fevereiro de 2024.
A conta leva em consideração as despesas de mais dois meses de guerra no que diz respeito a segurança e despesas civis. Mas não estipula como se chegaria ao fim. A mais recente iniciativa diplomática do Egito para a paz parece estar condenada ao fracasso, com a rejeição do Hamas. O plano incluía a saída dos extremistas do poder em Gaza.
Mudanças climáticas e o novo normal
2028 foi o ano em que os debates sobre mudanças climáticas saíram do campo da ciência e começaram a ser sentidas no dia a dia, com o aumento da incidência de fenômenos extremos, como seca e enxurradas. A conferência mundial do clima, que em 2024, no Azerbaijão, será uma espécie de transição entre a COP28, de Dubai, e a COP30, que terá como sede Belém, no Pará. Muito do sucesso da conferência da Amazônia passa por uma postura assertiva do Brasil nesse evento do ano que vem. Aliás, será a terceira vez consecutiva que a ONU realiza uma COP em um país não democrático - depois do Egito e dos Emirados Árabes Unidos.
O experimento de Milei
2024 será o grande teste do "experimento" Javier Milei na Argentina. As medidas de choque econômico, embora expostas, não foram detalhadas. Os primeiros sinais de inconformismo já apareceram nas janelas de Buenos Aires. Sem apoio no Congresso, vale ver até onde irá o novo presidente com suas medidas "ultraliberais" que lembram a era Carlos Menem.
O Brasil no Conselho de Segurança
Brasil deixa de participar do Conselho de Segurança da ONU no domingo (31). A volta do país ao colegiado, que dependeria de uma nova eleição, é incerta. Apesar de todos os esforços do governo Lula por uma reforma no sistema que garanta maior protagonismo ao país, os brasileiros devem passar pelo menos dois anos longe do órgão, para abrir espaço a outros latino-americanos.
Debates sobre a sucessão papal
A idade avançada do papa Francisco, que em 2024 completará 88 anos, deve acirrar as discussões sobre a sucessão no Vaticano - e, com eles, o embates entre conservadores e reformistas. A recente decisão do Pontífice de autorizar padres a abençoar relacionamentos de casais do mesmo sexo aprofunda não foi engolida pelo forte e vocal setor mais reacionário da Santa Sé.