Desde 2013, a cada ano, a revista The Economist, referência global em jornalismo econômico, escolhe o "país do ano".
Como toda "premiação" do tipo, os indicadores não são completamente objetivos. E, para uma publicação com forte característica liberal, os quesitos obedecem a cânones como livre-mercado, liberdade de imprensa e expressão e reformas que privilegiam o Estado enxuto.
Em 2023, o "país do ano" eleito pela Economist é a Grécia.
A nação que, há uma década, era símbolo da quebradeira provocada pela crise da dívida que quase levou o bloco europeu ao colapso, deu a volta por cima.
Para recordar: no auge da tempestade, em 2012, o PIB grego despencou 25%, e o desemprego atingia quase um terço da população. Entre 2010 e 2015, o país recebeu três pacotes de ajuda emergencial da União Europeia (UE), enquanto empresas iam à falência sob governos que seguiam cartilhas de extremos - da direita à esquerda.
Passados 10 anos, a Grécia voltou à "normalidade" política: tem um primeiro-ministro de centro-direita, Kyriakos Mitsotakis, reeleito em junho e uma política externa pró-UE e EUA. É uma das economias que mais cresceram no continente: em 2022, o PIB avançou 5,9% e, no ano anterior, chegou a incríveis 8,4%. A taxa de desemprego ainda não é das melhores (11%), mas para quem chegou a 28% naquele trágico 2012 é um grande avanço. Parte importante do segredo para voltar ao clube de bons pagadores está na austeridade fiscal adotada pelo país e nas reformas econômicas aprovadas nos últimos anos.
No poder desde 2019, Mitsotakis deflagrou uma série de políticas de disciplina fiscal, como corte de gastos e reformas que diminuíram a máquina pública, gerando maior produtividade e dinamizando a economia grega.
Para a "premiação", a Economist ficou em dúvida entre três países. Além da Grécia, a Polônia e o Brasil eram candidatíssimos.
Com relação ao primeiro, a revista elogia o fato de a economia polonesa ter resistido à guerra entre Rússia e Ucrânia que se avizinhou, ter ganho relevância interna na Otan e ainda feito um trabalho de acolhimento dos refugiados do conflito. Mas a herança do partido populista Lei e Justiça (PiS) seguiu fazendo estragos, cerceando a independência da Justiça e violando liberdade de expressão e de imprensa. Recentemente, a legenda sofreu derrota nas urnas, e o país voltou à racionalidade com um primeiro-ministro de centro, Donald Tusk. Por isso, não levou a distinção.
Por falar em "normalidade", o Brasil, também candidato a "país do ano", foi destacado pela Economist pelo resultado das eleições de 2022 e pelo primeiro ano do novo mandato do presidente Lula, com respeito às instituições. Também chamou a atenção dos editores da revista a redução do desmatamento na Amazônia. Mas o Brasil não ganhou o prêmio devido às relações próximas do governo com a Venezuela de Nicolás Maduro e com a Rússia de Vladimir Putin. Nas palavras do editorial da Economist (aqui, em inglês, para assinantes), tanto Polônia quanto Brasil "se destacam por voltar à moderação após caminhar no lado selvagem".