Fora dos muros da superprotegida Blue Zone, a área das negociações da COP28, realizada em Dubai neste mês, a vida real é bem mais dura. Com a inclusão dos combustíveis fósseis pela primeira vez em um documento final da conferências climáticas das Nações Unidas, era de se esperar, a julgar pelos discursos, que cada chefe de Estado ou governo saísse dos Emirados Árabes Unidos com um tema de casa a cumprir em prol da descarbonização do planeta.
Não é o que se vê, em especial no caso do Brasil. O ingresso do país na Opep+, o clube dos exportadores de petróleo, anunciado em plena COP28 é, com o perdão do clichê, apenas a ponta do iceberg. A Agência Nacional do Petróleo (ANP) havia marcado para 13 de dezembro o leilão de áreas para exploração. Seria um dia depois do encerramento da COP28, mas, com o fim da conferência adiado por falta de consenso, quis o destino que as datas coincidissem. Assim, enquanto o mundo bradava "menos petróleo, o Brasil dizia "mais petróleo". O governo, aliás, conseguiu a façanha de dar duas notícias antiambientais enquanto se arvorava, aos olhos da comunidade internacional, a posição de campeão do mundo sustentável.
A previsão da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) segundo a qual a produção de petróleo crescerá de forma significativa nos próximos anos - 80% em sete anos - deveria constranger as autoridades brasileiras e seus discursos bonitos na COP28. O resultado do leilão de áreas para exploração - entre elas a bacia de Pelotas - reforça que o país ainda atrairá investimentos no setor por muito tempo, apesar das pressões pela eliminação gradual dos combustíveis fósseis. Foi o leilão com o maior número de blocos concedidos desde que a ANP inaugurou o modelo atual de oferta, em 2019, e a quantidade de áreas arrematadas também foi recorde.
É abissal a distância entre a bolha da COP, aliás, realizada em uma petromonarquia, e o mundo real. O petróleo está morto. Longa vida ao petróleo.