Há dois sinais de que a guerra na Ucrânia atingiu um nível dramático nas últimas horas. Um deles é o fato de o país de Volodimir Zelensky ter utilizado drones navais para atacar a ponte de Kersh, entre a Rússia e Crimeia ocupada. Orgulho de Vladimir Putin, a estrutura foi erguida como consolidação da presença russa naquele naco de terra arrancado da Ucrânia em 2014. Tamanho é o simbolismo da travessia que o próprio presidente russo a inaugurou, dirigindo pessoalmente um caminhão por toda a sua sua extensão em um daqueles gestos de pompa e circunstância que o Kremlin costuma dar a seus czares.
Duas pessoas morreram na explosão da ponte. Não é a primeira vez que a estrutura foi atingida no conflito. Mas a diferença é que, nesta, a Ucrânia assumiu a responsabilidade pelo ataque. Assinou sua obra, em um gesto de provocação pouco comum e que, certamente, não ficará impune.
O segundo ponto a demonstrar o momento dramático a que o conflito chegou foi o envio pelos EUA de munições cluster para emprego da Ucrânia. Quando explodem, esses artefatos se partilham em pelo menos outras 600 mini-bombas, expandindo por quilômetros seu poder devastador e amplificando o terror. Essas munições, também chamadas de bombas de fragmentação, são tão mortais e traiçoeiras que, há anos, busca-se, sem sucesso, proibir seu uso.
Apesar dos apelos e denúncias de organizações como Human Rights Watch e Anistia Internacionais, vários países, entre eles o Brasil, se negam a assinar as convenções para bani-las. No caso brasileiro, o teto de vidro é ainda mais sensível porque a Avibras fabrica esse tipo de armamento e o exporta a vários países. Um dos destinos é a Arábia Saudita, acusada de utilizar as bombas cluster contra o Iêmen, por exemplo.
No caso da Ucrânia, há ainda dois aspectos crueis. As bombas de fragmentação podem ter efeito retardado. Ou seja, daqui décadas, quando os canhões silenciarem e, quem sabe, a paz voltar a reinar, uma criança poderá estar jogando futebol em um campinho e ser mutilada por uma dessas bombas. O segundo aspecto é que, como a Ucrânia recebeu o armamento para usá-lo contra os invasores de suas terras, é muito provável que essa criança venha a ser ucraniana, se o território for retomado. Ou seja, o país de Zelensky, com o apoio do Ocidente, pode estar se armando para jogar bombas contra sua própria população.