A cena patética do senador Eduardo Girão (Novo-CE) tentando entregar uma réplica de um feto ao ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, durante uma audiência no Senado nesta quinta-feira (27) diz muito sobre o que veremos a partir da semana que vem nas quatro Comissões Parlamentares de Inquérito que se armam no Congresso: performances circenses de deputados e senadores com celulares em punho para registrar suas próprias performances e exportá-las para as redes sociais.
Nos times que estão sendo escalados pelos dois lados para o embate das comissões, há, em geral três perfis conhecidos: os veteranos, que acrescentam experiência às equipes, os técnicos, que se apegam aos detalhes da matéria em análise, e aqueles mais combativos, que, ao vivo, costumam constituir a tropa de choque de governo e oposição. No atual estado das coisas, entretanto, há uma nova figura da CPI da qual nenhum dos lados poderá prescindir: a dos especialistas em produzir frases e imagens de efeito para agradar a suas próprias bolhas. E geral, são políticos novatos que já puderam mostrar a que vieram ao conquistar milhões de votos graças a sua interação nas plataformas digitais ou ao se envolverem, nesse curto período de mandato legislativo, em algum bate-boca ou escândalo recente - e cuja fama não durou mais do que algumas horas.
O distanciamento no Legislativo devido à pandemia nos poupou de um festival pior de baixarias durante a CPI da Covid. Mas, passado o pior da tragédia do coronavírus, teremos, agora, nesses colegiados as primeiras CPIs da era do TikTok. Não se surpreenda se houver até dancinhas. Nada como uma CPI para compreendermos o empobrecimento do debate político no Brasil e a vulgarização do parlamento que elegemos.