O senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que além de presidente do Senado comanda também o Congresso, leu nesta quarta-feira (26) o requerimento da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPMI) sobre os atos do dia 8 de janeiro. Na prática, está criado o colegiado que irá investigar, no parlamento, atos e omissões sobre aquele triste domingo da República.
O que ocorre agora?
Os blocos de partidos irão indicar os participantes - no total, são 32 membros, 16 para cada Casa. O governo deve ter maioria: estima-se que, desse total de parlamentares, pelo menos 20 serão da base aliada. Isso significa que o Planalto pode indicar a presidência e a relatoria da CPMI. Claro que, como diz o ditado aqui, em Brasília, "todo mundo sabe como uma CPI começa, mas ninguém sabe como termina", mas o fato de controlar o colegiado confere uma boa sugestão de quem comandará as investigações. Tanto que não é incomum, no dia de hoje, ouvir deputados e senadores da oposição dizendo que a deflagração do processo de CPMI foi um erro. Se o controle ficará com o governo de que vale?
Alguns parlamentares, inclusive, pensam em retirar assinaturas - o que é possível até a instalação, de fato, da CPMI, o primeiro de trabalho, provavelmente na semana que vem ou na outra. Logo, mais uma vez, no país do "tudo pode" não seria inimaginável que a CPMI fosse cancelada.
O Congresso está cheio nesta quarta-feira (26). Cabe ao governo, a partir de agora, resistir ao fenômeno da pós-verdade, quando o que mais vale são os sentimentos e menos os fatos. Todos sabem o que ocorreu no dia 8 de janeiro em Brasília: apoiadores radicais do ex-presidente Jair Bolsonaro, reunidos em frente ao quartel-general do Exército há mais de um mês, caminharam pela N1, a principal avenida do Eixo Monumental, até a Praça dos Três Poderes - muitos invadiram o Planalto, o Congresso e o Supremo Tribunal Federal (STF), vandalizando os prédios e as instituições da República.
As circunstâncias de como isso ocorreu é que serão discutidas: se houve incitação por parte de agentes políticos, se houve falha por parte do governo que havia oito dias tinha assumido ou traição interna.
A briga entre Arthur Lira (PP-AL) e Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que paralisou por algumas semanas o andamento de pautas importantes no Congresso, já tem segundo round. Eles disputam, agora, o comando da CPMI.
Como se sabe, quem ocupa os principais postos, dirige, de certa forma, as investigações, com poder para convocar depoentes e para autorizar quebra de sigilos. O Planalto gostaria de contar com a experiência do senador Renan Calheiros (MDB-AL) como relator. Mas ele é adversário regional de Lira. O blocão liderado pelo presidente da Câmara gostaria do deputado André Fufuca (PP-AL), mas também não é o nome dos sonhos de Lira. Já para a presidência, o bloco gostaria de emplacar o deputado Arthur Maia (União-BA), que tem o aval de Lira. Já Rodrigo Pacheco defende para o posto o nome do companheiro de partido Omar Aziz (PSD-AM).
Como governo e oposição estão montando seus times para a CPMI. Alguns dos cotados de cada lado:
Governo
Randolfe Rodrigues - Rede (AP)
Omar Aziz - PSD (AM)
Renan Calheiros - MDB (AL)
Otto Alencar - PSD (BA)
André Janones - Avante (MG)
Lindbergh Farias - PT (RJ)
Oposição
Magno Malta - PL (ES)
Jorge Seif - PL (SC)
Carlos Portinho - PL (RJ)
Eduardo Bolsonaro - PL (RJ)
André Fernandes - PL (CE)
Delegado Alexandre Ramagem - PL (RJ)
Aqui, um ponto polêmico: o pedido de criação do colegiado é de autoria do deputado bolsonarista André Fernandes (PL-CE), que é investigado no STF por suposto envolvido nos atos do dia 8 de janeiro. Uma das questões levantadas pelo governo é que ele não poderia integrar a CPMI.