A vitória política do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, no primeiro dia de março, com a retomada dos tributos sobre combustíveis, foi um ensaio. O verdadeiro teste será esta semana: a prova de fogo da nova regra fiscal, que irá substituir o teto de gastos.
O governo está espremido pelo tempo que ele próprio definiu. O presidente Lula quer bater o martelo sobre a nova âncora fiscal antes de embarcar para a China, no final da semana. Mas, na reunião de sexta-feira (17), o presidente pediu que Haddad amplie as conversas com o mundo político e com economistas, além de fazer novos cálculos sobre a proposta. Deseja ainda que sejam ouvidos o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).
Isso é um problema, porque Haddad tem mantido a proposta sob sigilo para evitar críticas diante do escrutínio da opinião pública e especulações no mercado. Então, como ouvir mais gente, como o chefe deseja, sem que a ideia do projeto vaze?
Há ainda o fogo amigo, dentro do PT. Como também no round anterior, da discussão sobre a reoneração de gasolina e etanol, está postada a velha disputa entre as alas política e econômica no partido: líderes do PT pressionam para que o novo marco fiscal não resulte em cortes drásticos em áreas sensíveis, a ponto de barrar investimentos em obras públicas, fundamentais para o bom desempenho do governo.
O próprio Lula está preocupado com o que considera que seria "estelionato eleitoral" - o famoso promete na eleição, mas não cumpre depois. Por outro lado, o ministro da Fazenda precisa convencer o mercado de que o governo terá capacidade de resolver o problema das contas públicas. Aliás, credibilidade na política econômica é algo que não só Haddad, mas Lula também precisa. Desde a campanha, as linhas mestras da economia nunca ficaram claras e, uma vez empossada, a gestão ficou mais marcada por ataques à autonomia do Banco Central e de seu presidente Roberto Campos Neto do que por decisões concretas.
Mais uma questão de timing: Lula e Haddad gostariam de apresentar, publicamente, a nova regra fiscal antes do início da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), que começa nesta terça-feira (21) e termina no dia seguinte (22), com o anúncio da nova taxa básica de juro, a Selic. Seria uma forma de tentar influenciar a decisão. Ou seja, se o prazo era sexta (24), no limite do embarque para Pequim, o limite foi reduzido para no máximo terça.