Primeiro país do mundo a descobrir a vacina contra a covid-19, a Rússia enfrenta um dos momentos mais dramáticos da pandemia. Nas últimas 24 horas, o país registrou recorde diário de novos casos de coronavírus- 31.299. O número de mortes no período, 986, também bate índices anteriores.
São números inéditos desde o início da pandemia. A Rússia acumula mais de 220 mil mortes por coronavírus, segundo cálculos do governo, embora os números reais sejam muito maiores. O instituto de estatísticas Rosstat, que aplica um método mais amplo para contar as mortes por covid-19, afirma que o total de óbitos passa de 400 mil.
Sob ceticismo do mundo, a Rússia anunciou o desenvolvimento da vacina Sputnik V em agosto de 2020. O governo e a imprensa estatal apresentaram o imunizante como prova de que a ciência russa estava liderando o caminho na luta contra o coronavírus e como trunfo geopolítico. O ufanismo lembrou a corrida espacial da Guerra Fria, quando os soviéticos colocaram no espaço o primeiro satélite, Sputnik, em 1957.
A falta de transparência sobre as pesquisas e testes da vacina retirou parte da credibilidade da descoberta da vacina. Os próprios russos não correram em busca de sua vacina. Não tanto pelo movimento antivacina que também existe na Rússia, mas por desconfiar do excesso de otimismo do governo e a falta de detalhes sobre o registro. Conforme pesquisas divulgadas em fevereiro de 2021, 58% dos entrevistados não confiavam na Sputnik V. Até hoje, alguns dados dos testes russos não foram disponibilizados.
Hoje, a imunização segue lenta no país. Conforme o site Our World in Data, o país contabiliza 34,16% da população tendo recebido ao menos uma dose, e 31,05% com as duas doses.
Em nível internacional, a Sputnik é adotada em vários países para uso emergencial. O governo afirma que são 62 nações, mas o painel independente do The New York Times registra 28. Entre as nações que aceitam estão Índia, Bangladesh, México, Argentina, Bolívia, Paraguai, Venezuela, Guatemala e Honduras.
No Brasil, a Anvisa ainda não aprovou o uso da Sputnik, alegando que inconsistências técnicas no seu desenvolvimento, que criam incertezas sobre a segurança da substância no combate ao coronavírus no organismo humano. Há, no entanto, suspeitas de pressões diplomáticas por parte do governo dos EUA, que remontam ao governo Donald Trump, para que o Brasil não aceitasse a vacina russa.
O ministro da Saúde, Mikhail Murashko, considerou quinta-feira que a culpa pelo aumento dos contágios deve-se ao comportamento da população em relação à vacinação, que avança muito lentamente.