Com o mundo se acostumando à ideia absurda de o Talibã ter voltado ao poder no Afeganistão e com a saída desastrosa dos Estados Unidos às vésperas do aniversário de 20 anos dos atentados de 11 de Setembro, novas pequenas bombas estão despencando sobre o colo do presidente Joe Biden.
A primeira e mais preocupante é o avanço da variante Delta do coronavírus, que ameaça o outono em Nova York, a primeira metrópole americana a ter encarado a covid-19 no ano passado e trauma que a cidade já esperava ter superado. A campanha de vacinação, um sucesso mundial após a posse do democrata, perdeu tração, graças à resistência e ao negacionismo de muitos nos grotões americanos _ o próprio Brasil superou há duas semanas os Estados Unidos no percentual da população com pelo menos uma dose da vacina. O governo Biden demorou para acender o alerta diante da variante surgida na Índia, e a explosão de infecções por coronavírus entre crianças americanas põe em risco o recomeço do ano letivo. As vacinas nos EUA são autorizadas apenas para maiores de 12 anos.
Com relação à segunda bomba, o furacão Ida, o governo agiu rápido ao declarar situação de desastre no Estado da Louisiana e ordenou ajuda federal para complementar os esforços de recuperação nas áreas afetadas pelos ventos de 240 km/h. Mas quando o pior parecia ter passado, a tempestade pegou, de surpresa, os excelentes serviços meteorológicos e de alerta americanos na Costa Leste. O número de mortos em Nova York e New Jersey passam de 15, e as imagens de ruas inundadas e cachoeiras no metrô corroem a imagem não apenas de Biden, mas também do prefeito nova-iorquino Bill de Blasio e da recém-empossada governadora Kathy Hochul, que assumiu há menos de um mês após a renúncia de Andrew Cuomo. Ambos são democratas como Biden. Esse foi o primeiro evento relâmpago de inundação da metrópole nessas proporções na cidade.
Na quarta-feira, a Organização Meteorológica Mundial (OMM) informou que o furacão Ida pode ser o desastre climático mais caro da história, superando inclusive o Katrina, que há 16 anos deixou cerca de 1,8 mil mortos na Louisiana e Mississipi. Junto com as guerras no Afeganistão e no Iraque, a tragédia em 2005 fez despencar a popularidade do então presidente George W. Bush e tirou de vez os republicanos da Casa Branca, três anos depois. Biden está apenas no começo do mandato. As mudanças climáticas são sua bandeira. Há chance para ele transformar, nesse tema, o limão em limonada. Mas o alerta soou desde a semana passada quando, pela primeira vez, a linha dos americanos que desaprovam seu governo superou a de quem o aplaude nos gráficos sobre sua popularidade.