Um verdadeiro tesouro de dados genéticos extraídos a partir de amostras de vírus estudados no Instituto de Virologia de Wuhan pode ajudar o mundo a descobrir as origens da covid-19, na China.
A hipótese de que o coronavírus possa ter vazado acidentalmente do laboratório da cidade chinesa é uma entre outras investigadas por especialistas americanos, depois do relatório da OMS sobre a gênese da pandemia ter sido amplamente criticado devido a inconsistências.
O banco de dados estaria nas mãos das agências de inteligência americanas, segundo uma reportagem divulgada nesta quinta-feira (5) pela rede CNN. Não se sabe como nem quando o conjunto de informações chegou até os investigadores, o que sugere, conforme a emissora, a ação de hackers.
Ainda assim, transformar esse manancial de informações brutas em algo palatável é um enorme desafio. O processamento exige computadores potentes e cientistas altamente especializados em genética, com autorização para trabalhar com dados sigilosos e que compreendam mandarim. Nada que a complexa comunidade de inteligência americana não disponha.
Os dados serão analisados por supercomputadores dos laboratórios nacionais do Departamento de Energia e por um grupo de 17 instituições de pesquisa governamentais.
O principal ponto a ser descoberto é como o coronavírus passou de animais para humanos. Desvendar esse mistério é fundamental para saber se o Sars-CoV-2 vazou do laboratório de Wuhan ou se foi transmitido para humanos a partir de animais selvagens. A segunda hipótese é sustentada pelo governo chinês desde o início, mas a primeira, inicialmente vista como teoria conspiratória, começou a ganhar corpo durante a gestão Donald Trump e foi levada adiante pelo mandato de Joe Biden.
Os investigadores, dentro e fora dos Estados Unidos, há muito tempo buscam dados de genéticos de 22 mil amostras de vírus que eram estudadas no instituto de Wuhan. Essas informações foram removidas da internet por autoridades chinesas em setembro de 2019 (dois meses antes do primeiro caso de covid-19 informado por Pequim).
Desde então, a China tem se recusado a entregar esses e outros dados brutos sobre os primeiros registros da doença aos investigadores da OMS.
A CNN informou no mês passado que o governo Biden acredita que a possibilidade de o coronavírus ter vazado do laboratório é tão crível quanto a de ele ter surgido naturalmente, como, por exemplo, no mercado de animais silvestres de Wuhan.
Em maio, Biden deu um prazo de 90 dias para que as agências de inteligência americanas elaborem um relatório sobre a origem do vírus. Esse período está se encerrando. E, ao que tudo indica, ao final desse prazo, dificilmente os especialistas americanos terão uma resposta tida como de "alta confiança", o que, no jargão da comunidade de inteligência dos EUA, significa praticamente certeza sobre a gênese da pandemia.