O Reino Unido é uma espécie de farol para o qual o mundo olha desde o início da pandemia - para bem ou para o mal. Quando o coronavírus adentrava na Europa pela Itália, o governo de Boris Johnson ia na contramão de boa parte do continente - e dos cientistas -, defendendo a imunidade coletiva para lidar com a covid-19. A Suécia seguiu nessa linha, mas o Reino Unido recuou, depois que o próprio primeiro-ministro quase morreu em decorrência do vírus.
A mudança de atitude de Johnson em relação ao enfrentamento da doença, adotando regras mais restritas de proteção para a população, virou exemplo de liderança. Foi ali que o país, ainda hoje com o maior número de infectados e mortes do continente, começou a virar o jogo contra a covid-19 e a apostar na vacina.
Em 8 de dezembro, o mundo olhava de novo para o Reino Unido, desta vez por se tornar o primeiro país do Ocidente a aplicar o imunizante, produzido pela prestigiosa Universidade de Oxford em parceria com a AstraZeneca. Hoje, 68% da população britânica já recebeu pelo menos uma dose da vacina, e 52,6% está totalmente imunizada.
A partir desta segunda-feira (19), é hora de lançar novamente o olhar para a ilha de Sua Majestade. No que está sendo chamado de "Dia da Liberdade", o país se torna um dos primeiros a acabar com praticamente todas as restrições. Boates irão reabrir, bares e restaurantes podem receber mais clientes e a exigência de uso de máscaras no transporte público e em locais fechados acabou.
O experimento poderá revelar as consequências da suspensão, do ponto de vista epidemiológico, para um território com grande população - 66 milhões de pessoas - e casos crescentes da doença. O resultado servirá (ou não) como farol para outras nações.
A liberação é um novo e grande teste para a população em geral e para o governo Johnson em particular. Primeiro porque, apesar de o número de mortes ser muito menor do que em outros picos da doença, o Reino Unido vem registrando mais de 50 mil novos casos a cada dia. Na semana passada, cientistas de vários países publicaram uma carta solicitando que o governo adiasse as restrições, especialmente diante do avanço da variante Delta. Não houve efeito.
As vacinas contra a covid-19 garantem proteção porque previnem o desenvolvimento de formas graves da doença, reduzindo chances de mortes e internações, mas não impedem o contágio nem a transmissão do vírus.
A liberação ocorre no momento em que o próprio Johnson é criticado porque estava tentando escapar da quarentena, depois que ele teve contato com o ministro da Saúde, Sajid Javid, que positivou. Em uma ideia de alto risco, queriam manter Johnson e o ministro das Finanças, Rishi Sunak, como parte de um suposto "esquema piloto de testes diário" que permitiria que eles continuassem trabalhando. Sob críticas, o governo recuou. Johnson e Sunak estão em quarentena no "Dia da Liberdade".