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Entre os dias 3 de novembro de 2020, data da eleição presidencial nos Estados Unidos, e 20 de janeiro de 2021, a posse do eleito, a democracia americana enfrentou o maior teste de sua história recente.
Nos dias subsequentes ao pleito, o então presidente Donald Trump fez de tudo para avacalhar o resultado das urnas, não reconhecendo a derrota, infestando os Estados de processos judiciais por recontagem de votos e convocando apoiadores às ruas. O auge da tensão foi o dia 6 de janeiro, quando Trump transformou o que seria mera formalidade - a sessão conjunta do Congresso que apenas ratificaria o resultado da eleição -, em um pandemônio, com a invasão do prédio do Capitólio por seus seguidores. Até a manhã do dia 20, não se sabia se o republicano deixaria a Casa Branca por bem ou por mal. Trump saiu, mas não transferiu, como é tradição, o cargo ao sucessor, Joe Biden, preferindo deixar o poder pela porta dos fundos.
O que aconteceria se o presidente não deixasse o poder naquele dia e um golpe se materializasse no coração da mais tradicional democracia do planeta? A resposta começa a vir a público a partir do livro I alone can fix it: Donald J. Trump's catastrophic final year, dos jornalistas Carol Leonnig e Philip Rucker, do The Washington Post e ganhadores do Pulitzer, a ser lançado na próxima terça-feira nos Estados Unidos. A mais bombástica informação contida na obra, cujos trechos já foram divulgados pela rede CNN, mostra que o alto comando militar americano tinha planos para conter o presidente, caso ele tentasse um golpe.
Os repórteres descrevem como o chefe do Estado-Maior conjunto, Mark Milley, a maior autoridade das forças armadas do maior potência militar do mundo, arquitetou um plano: caso Trump não aceitasse sair e desse ordens para resistir, Milley e os comandantes das forças, um a um, se demitiriam. "Eles podem tentar, mas não vão conseguir merda nenhuma", teria dito o oficial a subordinados, segundo o livro. "Não é possível fazer isso sem as forças armadas. Não é possível fazer isso sem a CIA e o FBI. Nós somos os caras com as armas", teria acrescentado.
Leonnig e Rucker entrevistaram mais de 140 pessoas, entre elas o próprio Trump. As incitações do presidente aos apoiadores, por meio das redes sociais, nos dias que antecederam à invasão do Capitólio - e que serviram de base para o segundo pedido de impeachment de seu governo - eram monitorados pelos oficiais. Eles preocupavam-se com o risco de o presidente usar eventuais distúrbios, insuflados por ele próprio, como argumento para invocar o Ato de Insurreição, legislação que permitiria a Trump colocar soldados e a Guarda Nacional nas ruas em casos de revolta, desordem e rebelião. Milley chega ao ponto de traçar paralelos entre a atitude do presidente com a de Adolf Hitler. "Esse é o momento Reichstag", teria dito, em referência ao incêndio do parlamento alemão pelo Führer, um dos marcos do estabelecimento da ditadura nazista na Alemanha.
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Após o 6 de janeiro, o general passou a conversar diariamente com o chefe de Gabinete de Trump, Mark Meadows, e com o secretário de Estado Mike Pompeo. O tema era "faça chuva ou faça sol, haveria transferência de poder pacífica", como, de fato ocorreu.
À medida em que trechos do livro começaram a aparecer na imprensa, esta semana, Trump divulgou um comunicado, no qual afirma que nunca ameaçou ou falou com ninguém sobre um golpe no governo. "Isso é tão ridículo!", considerou.