O número de mortos e as imagens impressionantes da tragédia das chuvas na Europa invadiram a política. São, até este domingo (18), 170 óbitos em cinco países: Alemanha, França, Holanda, Luxemburgo e Bélgica. A Alemanha, nação mais atingida pelas inundações (143 mortos), enfrenta sua pior tragédia desde 1962, quando uma enchente no Mar do Norte matou 340 pessoas.
As cenas deste final de semana de julho de 2021 mostram, além de inundações, deslizamentos de terra e casas arrastadas pelos rios, como o Ahr, que nasce na fronteira com a Bélgica, deságua no Reno e cujo vale é conhecido pela produção de vinho tinto.
Colocar o desastre na conta do aquecimento global é sempre polêmico. De um lado, há quem negue o fenômeno das mudanças climáticas, para os quais o degelo do Ártico, furacões ou a elevação dos níveis dos mares sempre ocorreram. De outro, há os que consideram a frequência de fenômenos extremos reflexo da ação da humanidade - entre os quais a maioria dos cientistas. A Organização Meteorológica Mundial (OMM) afirma que fenômenos deste verão no Hemisfério Norte - com chuvas sem precedentes no oeste europeu e ondas de calor no Canadá e nos Estados Unidos - são evidências da alteração do clima.
Acredite-se ou não no quanto nossas ações interferem, como humanidade, na atmosfera, o fato é que os eventos extremos movimentam a ação política - inclusive de quem os nega, como a AfD (Alternativa para a Alemanha), partido de extrema-direita na Alemanha pré-eleição. As chuvas na Europa chegaram na semana em que a União Europeia discutia o novo plano para reduzir a poluição gerada pelo bloco e conter o aquecimento global. Na estratégia, que ainda precisa ser aprovada pelo parlamento e pela Comissão Europeia, no valor de implantação de 50 bilhões de euros, está o aumento do uso de energia limpa, estímulo para uso de carros elétricos, veto a fabricação de veículos a combustão até 2035 e taxas extras para importar produtos fabricados sem respeito às regras ambientais. O "fit to 55" prevê redução de 55% da emissão de gases do efeito estufa até 2030, tendo como base os níveis de 1990.
A médio prazo, a UE tenta acelerar o debate mundial antes de chegar à mesa da COP-26, em Glasgow, em que os países tentarão destravar o Acordo de Paris. A Alemanha, um dos líderes do bloco, tem ainda mais pressa. Não só porque vem sofrendo os efeitos das chuvas mas porque o ambiente é tema fundamental da campanha eleitoral para o pleito de setembro, quando será escolhido o novo governo.
A eleição lembra 2002, quando, em meio às cheias do Elba e do Danúbio, o chanceler Gerhard Schröder conseguiu a re-reeleição. Angela Merkel, no poder desde 2005, já prometeu que não continuará no Bundestag (parlamento), mas quer, claro, fazer o sucessor. No fim de semana, recém-chegada de Washington, ela esteve nas regiões alagadas. Mas o protagonismo ficou por conta do seu candidato na CDU (União Democrata Cristã), Armin Laschet, governador da Renânia do Norte-Vestefália. E não foi por bem. Enquanto o presidente da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier, prestava sua homenagem às vítimas das enchentes, ele era flagrado às gargalhadas ao fundo, com correligionários: "Laschet ri enquanto o país sofre", tascou em sua manchete o Bild, jornal mais lido da Europa.
Os verdes, em segundo lugar na corrida eleitoral e que poderiam tirar algum proveito eleitoral com a tragédia, enfrentam um escândalo de plágio e vem caindo nas pesquisas. Há dois meses, os levantamentos apontavam o partido como possível vencedor do pleito, mas, desde então, os ventos mudaram. Com 17% nas pesquisas, eles não apenas estão atrás da direita (28%), como estão empatados com os socialdemocratas (17%). Já a CDU, de Merkel, favorita em vencer e governar, se fizer acordo para coalizão com sua irmã bávara a União Social Cristã, perdeu pontos. Mas segue na frente.