O discurso de Xi Jinping, durante a celebração que marcou, nesta quinta-feira (1º), os 100 anos do Partido Comunista Chinês (PCC) foi cheio de ameaças veladas a inimigos internos e externos. Na Praça Tiananmen (da Paz Celestial), palco histórico da Revolução – e da repressão do regime, como no Massacre de 1989 –, o presidente chinês sinalizou que a mão pesada da ditadura vai continuar recaindo sobre Hong Kong e Macau, cujos dias de semiautonomia estão contados, e sobre o Tibete e o povo uigur. Pequim não irá tolerar separatismo.
Ao falar sobre “soberania e integridade territorial”, Xi também abarca a questão de Taiwan, ilha para onde fugiram os nacionalistas que perderam a guerra civil que culminou na ascensão do PCC ao poder e a consolidação da vitória de Mao Tsé-tung, em 1949. Não duvide, em algum momento no futuro, o dragão chinês irá esticar suas garras sobre o território, considerado rebelde pelos comunistas, visto como um país independente por apenas 26 nações, mas não reconhecido pelas Nações Unidas (o Brasil está entre os que não o aceitam como Estado soberano).
No discurso, Xi prometeu resolver “a questão de Taiwan”, “esmagando” qualquer tentativa de independência. Nos últimos anos, o regime tem feito circular próximo à ilha caças e bombardeiros, em atos de intimidação – um ataque ao território, no entanto, certamente levaria a uma reação dos Estados Unidos, protetores informais do governo de Taiwan.
De uma hora de fala, uma sequência de frases recheada de metáforas reverberou:
– A China nunca oprimiu nem vai oprimir ninguém. O povo chinês nunca vai permitir que forças estrangeiras nos oprimam ou escravizem. Qualquer um que quiser isso vai quebrar a cabeça e derramar seu sangue na Grande Muralha de aço, forjada pela carne e sangue de 1,4 bilhão de pessoas.
O regime tem uma interpretação elástica do conceito de autodeterminação, conceito proposto pelo ex-presidente americano Woodrow Wilson e que norteia as relações internacionais desde a Segunda Guerra Mundial. Para os chineses, significa simplesmente: “Não se metam com nossos assuntos internos”. É algo que pode ser entendido também como o entorno estratégico – além de Taiwan, o Mar do Sul da China, importante rota comercial (cerca de US$ 3 trilhões em mercadorias passam a cada ano por lá). Trata-se de uma das regiões mais explosivas do planeta, onde os gigantes medem forças. Pequim nega intenções militaristas, mas considera 85% dessa porção de mar suas águas territoriais – o que significa briga com outros seis países. No ano passado, os EUA fizeram manobras com porta-aviões em águas que a China considera como suas.