Criado em Xangai, em 1921, por um grupo de cinco pessoas, o Partido Comunista Chinês (PCC) chega, nesta quinta-feira (1º), aos cem anos cada vez mais onipresente na vida dos 1,3 bilhão de cidadãos e mimetizado com a máquina estatal que governa a segunda maior economia do mundo. São 92 milhões de filiados, o que torna a legenda a segunda maior agremiação política do planeta - atrás apenas do Partido do Povo Indiano (BJP), que conta com o dobro de membros.
A história do PCC se confunde com a da própria China contemporânea, servindo como espinha dorsal da narrativa ideológica que nutre o regime desde a Revolução, em 1949, quando o partido, pelas mãos de Mao Tsé-tung, deixou os 28 anos de oposição para reinar absoluto em Pequim, após a guerra civil que expulsou os nacionalistas para Taiwan.
Diferentemente de outras siglas comunistas que se mantiveram imutáveis, o PCC se adaptou aos novos tempos - e, por isso, sobreviveu enquanto companheiros de ideias sucumbiram mundo afora. Na China, o partidão foi capaz de fazer autocrítica, especialmente sobre os excessos de Mao no Grande Salto para a Frente e na Revolução Cultural, e de reabilitar figuras execradas pelo líder histórico. Deng Xiaoping é o melhor exemplo. Após retornar ao partido, suas reformas deram cor ao que hoje vemos como "capitalismo de Estado" chinês, garantiram a própria vitalidade da legenda e lançaram as sementes da grande potência econômica em que a China se tornou. Aliás, "se tornou", é um termo relativamente equivocado para descrever o país. Para os chineses, a China só está retomando seu lugar de potência central no sistema internacional, após um século de humilhação, entre as Guerras do Ópio, a partir de 1839, e a fundação da República Popular, em 1949.
Xi Jinping, o atual presidente, herdeiro do pensamento de Deng, encarregou-se dessa missão de recolocar a China no jogo internacional, expandindo influência política e econômica em seu entorno estratégico (a Ásia) e além - África e América Latina, em especial, e até na Europa, como se viu durante o ano 1 da pandemia. No campo interno, Xi infiltrou o PCC ainda mais na máquina estatal e no setor privado.
A pujança chinesa neste centenário do PCC esconde, no entanto, esqueletos no armário: a falta de transparência com relação ao surgimento do coronavírus, a censura típica das autocracias, a perseguição a opositores e a repressão a movimentos de independência e por democracia. Que o diga Hong Kong, alvo prioritário da truculência de Pequim. Em dois anos, o regime sufocou a revolta no território, com prisão de manifestantes, fechamento de jornais e a criminalização dos protestos, exibindo ao mundo a dualidade do dragão no século 21: crescimento econômico e ditadura.