Nesse quase um ano de pandemia (declarada pela OMS em 11 de março de 2020), já aprendemos que a propagação do coronavírus ocorre de forma diferenciada por região e demografia e que, em geral, cultura, modus vivendi da população e decisão política fazem a diferença.
Também já sabemos que diferentes fatores explicam por que alguns países, como Israel, Emirados Árabes Unidos, Reino Unido, Sérvia e Chile estão na ponta de cima da corrida pela vacina contra a covid-19 - ainda que, por vezes, mesmo quem fez o tema de casa, antecipando negociações com laboratórios, como a União Europeia, patina para imunizar sua população devido a problemas da cadeia de produção e a gargalos logísticos.
A despeito das idiossincrasias regionais, um olhar sobre como o mundo se comporta em relação ao coronavírus em questões fundamentais, como a educação, traz lições - especialmente no momento em que vários Estados brasileiros, o Rio Grande do Sul inclusive, debatem o retorno ou não às aulas no momento em que o país enfrenta o pior momento da covid-19 até agora.
A iluminar essa discussão, um estudo realizado pela fundação Vozes da Educação comparou o tempo em que as escolas ficaram fechadas e a posição dos países no Pisa, o Programa Internacional de Avaliação de Alunos, a maior avaliação de estudantes em nível global.
Em resumo, nações que aparecem no topo do ranking da educação, como Alemanha, Reino Unido, Dinamarca e França, ficaram menos tempo com as aulas presenciais interrompidas do que aquelas que estão mais para o final da lista. O Brasil, infelizmente habitué das últimas colocações no exame internacional - no último ano ficou em 57º -, teve 267 dias de escolas fechadas até o final de janeiro. Dinamarca, que aparece na 18ª posição no Pisa, teve 49 dias de aulas não presenciais suspensas. Canadá, na sexta colocação, teve 92 dias sem aulas presenciais. Cingapura, segundo no ranking, ficou com 27 dias com os colégios vazios.
A França é um caso curioso. O país está em 23º no Pisa, viveu um dos mais rigorosos confinamentos da Europa durante a primeira onda, com lojas, bares e restaurantes fechados. Mas as escolas ficaram sem aulas presenciais apenas por 41 dias. No Reino Unido, que vive um segundo lockdown, as aulas presenciais deverão voltar um mês antes de academias, salões de beleza e outros serviços, segundo o governo Boris Johnson.
Entre os 21 países analisados pela pesquisa, o Brasil só está atrás da Bolívia em tempo de fechamento de escolas - o país vizinho manteve cerradas as portas das instituições por 270 dias até janeiro. Dessas nações, apenas cinco incluíram professores na lista prioritária para vacinação contra o coronavírus - Argentina, Chile, França, Reino Unido e Uruguai.
A nós, que batemos cabeça entre decisões de governo, ordens judiciais, abre e não abre escola, enquanto pais estão em dúvida se mandam ou não seus filhos para o colégio, a pesquisa revela saudáveis ensinamentos: em nações onde o processo se deu de forma mais adequada possível, foram fundamentais a comunicação homogênea e coerente entre gestores e comunidade escolar - pais, alunos e professores -, houve lives frequentes entre as autoridades regionais e o Ministério da Educação, e uma rede de informação foi criada, de forma a tornar público os números de novos casos em cada escola, por meio de site ou aplicativo, de forma a manter a transparência.