Donald Trump é um personagem riquíssimo. E Bob Woodward, o jornalista que melhor conhece os presidentes americanos.
A junção do biografado e do biógrafo, nesse caso, sempre rende uma obra de arte, com ou sem a colaboração do primeiro. Woodward, o eterno repórter do caso Watergate, conhece tanto os bastidores da Casa Branca, contabiliza tantas fontes no governo, desde Richard Nixon, que pode dispensar entrevistas com o biografado para construir o melhor relato do governo Trump. Foi o que fez em "Fear" ("Medo"), classificada pelo presidente como "piada" e "fraude".
Vários jornalistas haviam escrito sobre a administração do republicano até a obra de Woodward. Mas não com a contundência, detalhes e principalmente independência que o selo Woodward de qualidade jornalística atribui a qualquer texto. "Fear" não tem nada de fraude e muito menos de piada - embora, algumas passagens que descrevem o dia a dia da Casa Branca trumpiana o pareçam.
Agora, o jornalista do The Washington Post está lançando outro livro-bomba: "Rage" ("Raiva"), previsto para 15 de setembro pela editora Simon & Schuster. O grande lance desse novo trabalho é que Woodward aborda as passagens mais recentes do governo Trump: a pandemia de coronavírus, os protestos a partir da morte do negro George Floyd por um policial branco e, cereja do bolo, 25 cartas trocadas entre o presidente americano e o ditador da Coreia do Norte, Kim Jong-un. As negociações entre os Estados Unidos e o país asiático são provavelmente o principal momentum da diplomacia americana nesses quatro anos de governo, que terminarão em 20 de janeiro de 2021. Trump teve dois encontros com Kim, um deles histórico, em Singapura, em 2018, e outro que terminou em fracasso, no Vietnã.
Depois de chamar a primeira obra de Woodward de fiasco e piada, Trump, desta vez, concedeu entrevistas ao repórter. E, como já é de costume, o livro traz detalhes de centenas de horas de entrevistas com outras fontes do governo, emails, diários e documentos confidenciais.