Por serem a porta do coronavírus no Ocidente, os países da Europa atraíram as atenções em março devido ao grande número de mortos e infectados, ao colapso de sistemas de saúde, como em Milão, na Itália, a confinamentos como os de Madri e Barcelona, na Espanha, e, em efeito cascata, às crises econômicas nacionais e do bloco, de forma geral, decorrentes da pandemia.
Mas a covid-19 não é mais apenas uma tragédia europeia. Oito meses desde o surgimento na China, o coronavírus parece escolher seus alvos mirando nações continentais e muito populosas, com graves desigualdades sociais, permeadas por corrupção ou por estratégias de saúde equivocadas no combate à doença.
Os números computados pela Universidade Johns Hopkins mostram que, nas últimas semanas, México e Índia, duas nações gigantescas em população e território, ultrapassaram de forma consistente Reino Unido, Itália, França e Espanha. Chama atenção a velocidade com que esses dois países em desenvolvimento superaram as quatro nações europeias que mais foram atingidas pela pandemia. Em 24 de julho, quando escrevi aqui que México e Índia caminhavam rumo ao topo, o país latino-americano estava em quarto lugar, com 41,9 mil mortos, atrás do Reino Unido e à frente da Itália.
A Índia vinha na sequência, em sexto, com 30,6 mil óbitos. Quatro semanas depois, o México acumulou novos 14,6 mil mortos, e a Índia, 19,3 mil, distanciando-se dos europeus. Mesmo somados os dados atuais totais, essas duas nações não superam em vítimas fatais o Brasil, segundo colocado, atrás dos Estados Unidos. Nas quatro primeiras posições no macabro ranking dos mortos por covid-19, as curvas estão em ascensão nesses países, enquanto nos europeus elas adquiram a forma de platô. México e Índia se irmanam nas fragilidades das políticas adotadas para o controle da doença: houve informações contraditórias por parte das autoridades, confusas e incoerentes. Quanto ao uso de máscaras, comprovadamente um equipamento que reduz o contágio, também há controvérsias – o próprio presidente mexicano, o líder de esquerda Manuel López Obrador, até hoje se nega a utilizar a proteção com tiradas populistas do tipo “só as usarei no dia em que não houver mais corrupção no México”. No outro lado do espectro político, Narendra Modi (de direita e também populista) impôs na Índia o maior lockdown do mundo de forma precoce, quando o país registrava apenas 10 mortos e 562 contaminados. Como no México, retomou as atividades mesmo sem que a curva de infecção fosse achatada.
Ambos não fazem testes suficientes em sua população – logo há subnotificação. Ambos estão com o sistema de saúde à beira do abismo. Ambos estão longe do pico de contágio.
Os 10 países com maior números de mortos
24 de julho
1 EUA - 144,3 mil
2 Brasil - 84 mil
3 Reino Unido - 45,6 mil
4 México - 41,9 mil
5 Itália - 35 mil
6 Índia - 30,6 mil
7 França - 30,1
8 Espanha - 28,4 mil
9 Peru - 17,6 mil
10 Irã - 15 mil
17 de agosto
1 EUA - 169,8 mil
2 Brasil - 107,2 mil
3 México - 56,5 mil
4 Índia - 49,9 mil
5 Reino Unido - 46,7 mil
6 Itália - 35,3 mil
7 França - 30,4 mil
8 Espanha - 28,6 mil
9 Peru - 26 mil
10 Irã - 19,6 mil
* Fonte: Universidade Johns Hopkins