Em entrevista coletiva por teleconferência na manhã desta terça-feira (7), o novo embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Todd Chapman, rejeitou as suspeitas de que o governo americano estaria bloqueando insumos médicos comprados pelo Brasil e provenientes da China, como máscaras e respiradores.
- Estive lendo essas notícias, declarações, e quero deixar bastante claro que o governo do Estados Unidos não bloquearam equipamentos médicos vindos da China comprados pelo Brasil. São falsos esses relatórios - disse Chapman.
A informação veio a público no final da semana passada a partir da reclamação do governo da Bahia de que uma carga de 600 respiradores artificiais chineses comprada por Estados do Nordeste ficou retida no aeroporto de Miami, onde haveria conexão para o Brasil. Também o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, citou o tema.
- Não vou criar conversação virtual com governadores, podem mandar informadores para a gente. A informação até esta data é de que não é verdadeiro. Já investigamos, e não é verdade. Se houver outra informação, podemos investigar - completou.
O embaixador destacou que esta pode ser uma notícia falsa propagada em um momento de emergência internacional por causa do coronavírus.
- É uma época em que muitos estão querendo avançar com agendas pessoais ou de governos. O que, sim, está passando é que muitos fornecedores estão jogando, às vezes querendo vender para cá e depois para lá. Nós estamos com nossos oficiais de Justiça para prevenir isso. Não pode fazer sobrepreço, de uma máscara que custa cinco e depois, eu guardo e vendo por 15. Isso é contra a lei americana. Estamos dedicados a prevenir essa atividade ilegal. Durante essa emergência de saúde, é muito importante cuidar com as informações. E ver de onde elas vêm - afirmou.
O novo embaixador se encontrou pessoalmente com o presidente Jair Bolsonaro na segunda-feira (6) e manteve reuniões por videoconferência com o ministro Mandetta e com o chanceler Ernesto Araújo. Sobre a pandemia, ele destacou a parceria entre os governos em saúde já antes do coronavírus.
- Nossas equipes trabalharam juntas na crise de zika, HIV. Já existe uma parceria bem ampla na área de saúde. Estamos compartilhamos muitas informações sobre o que estamos vendo, estudando. O canal está completamente aberto. Já existe e foi enfatizado durante minha reunião com o Ministro da Saúde. Não só o governo está oferendo muita cosia, mas também o setor privado está entrando em ação.
Chapman destacou que empresas americanas, como a General Motors, estão fabricando respiradores, e companhias farmacêuticas, como 3M, já teriam triplicado sua produção de máscaras.
- Impressionante o que o setor privado americano está fazendo no Brasil. Não tiveram que chegar porque já estão aqui - explicou.
Indicado pelo presidente Donald Trump em outubro, Chapman chegou há uma semana ao Brasil:
- Chego em um momento bastante difícil, é uma emergência mundial essa pandemia. Neste momento, a prioridade número 1, número 2 e número 3 é trabalhar com o Brasil para vencer este mal, esta doença que está trazendo tanto danos para todo o mundo.
Ele resumiu sua missão em três itens: comércio e investimentos, segurança e temas globais.
- Comércio e investimentos vão ser ser ainda mais importante quando sairmos dessa crise - afirmou.
Proximidade com o Brasil
Chapman tem relações estreitas com o Brasil. Chegou com o pai em 1974, que tinha negócios no país. Viveu como adolescente no Brasil, período em que, segundo lembrou, colecionava figurinhas de futebol. Trabalhou no setor privado antes de ingressar na vida diplomática - sua mulher também é funcionária do governo americano. Fluente em português, foi vice-chefe da missão em Brasília, entre 2011 e 2014. Seu último posto foi de embaixador dos EUA no Equador. Ele também serviu no Afeganistão, na Bolívia, em Moçambique e na Nigéria. A embaixada dos EUA no Brasil estava sem titular desde novembro de 2018. A missão americana no país conta com 1,5 mil pessoas. Cerca de 260 mil americanos vivem no Brasil.
Disputa com a China
Sobre a disputa com a China e de como Pequim estaria usando a crise para ampliar poder geopolítico sobre o mundo, o embaixador afirmou que é o momento de todos trabalharem em conjunto - e não de ganhar pontos:
- Um bairro quando está em chamas, e as casas em chamas, não é o momento de debater, e ganhar pontos, o bairro está em chamas. Não é o momento de enfocar em de onde começou esse fogo. Nós já sabemos onde começou. Não é uma declaração política, é um fato. O importante agora é controlar o fogo. E por isso vamos trabalhar no Brasil e no mundo para extinguir esse fogo da covid-19.
Proibição de voos do Brasil para os EUA
Sobre as declarações de Trump, que os EUA podem interromper os voos provenientes do Brasil, ele afirmou a Casa Branca está analisando a questão.
- Muitos países não tem acesso direto para chegar aos EUA. ainda o brasil está aberto. São 16 voos semanais entre EUA e Brasil. É uma coisa que sempre vai ser analisada, e vamos conversar. Mas é importante para proteger o nosso país como é importante para brasil proteger o seu país. Sempre estamos avaliando constantemente, mas sempre em conversação com autoridades brasileiras. Hoje tem voos que vão diretamente para EUA e vice-versa - destacou.
Guerra da 5G
A coluna questionou se as relações comerciais entre Brasil e China podem provocar estranhamentos com o governo dos Estados Unidos, em especial sobre a tecnologia 5G. O embaixador afirmou que são assuntos complicados que cada nação tem que orientar e tem que trabalhar para o bem de seus interesses nacionais, os benefícios de sua própria nação, é o dever de governo.
- É evidente que nós não estamos sempre de acordo em tudo com a china e com muitos países. Mas falando sobre os países que não temos os mesmos princípios é um fato, não é especulação. Nós respeitamos a liberdade ele expressão e religião e jogamos com economia aberta e setor privado e muitos países autoritários, comunistas, de ditaduras e não praticam esse mesmos princípios, mas não significa que não podemos teriam relação construtiva baseada em interesses nossos.
O embaixador explicou a disputa de 5G por meio de metáfora do futebol.
- É como se eu chegasse no campo de futebol no brasil, mas não jogo com as regras do futebol brasileiro. Mas jogo de acordo com as regras do futebol americano no futebol americano, você pode pegar a bola com as mãos e com dois bloqueadores. Eu, com mais 10 americanos, jogando com as regras americanas, em campo brasileiro, vou sempre ganhar. Mas não é justo porque estou jogando com regras diferentes. Isso não é justo. Por isso estamos exigindo que seja justo nas relações comerciais. Reciprocidade é importante e vamos trabalhar nesse sentido.
Crise com a Venezuela
A coluna também questionou sobre o que os EUA esperam do Brasil na crise na Venezuela:
- É uma área onde tem muita sintonia entre o governo no brasil e dos EUA. Nós dois reconhecemos que Venezuela está sujeita à ditadura de Nicolás Maduro e os venezuelanos estão sofrendo, saindo de seu próprio país e fugindo por causa da miséria e da repressão. Que desgraça, mas que bom que Brasil e EUA e muitos outros, grande maioria da América Latina, estão a favor do retorno da democracia e do fim do sofrimento dos venezuelanos. Por isso, emitimos uma nova ideia. E pensamos que esse tipo de governo de transição que foi proposto é a melhor saída atual (que não inclui nem Maduro nem Juan Guaidó). Agora, temos que ver uma resolução para o bem da Venezuela e também para o bem do nosso hemisfério e nisso o Brasil é um líder é muito importante que trabalhando junto chegamos ao final humanitário e democrático para todos os venezuelanos.