No domingo (5), o governo do Irã anunciou sua retirada do acordo nuclear fechado em 2015 e disse que irá enriquecer urânio livremente. Mas o que isso significa na prática? A coluna responde em cinco pontos.
1 — O que significa o fato de o Irã ter rompido o acordo nuclear?
Significa que o país pode enriquecer urânio, combustível nuclear usado para energia mas também como arma atômica, livremente. Ou seja, sem nenhum controle internacional. O acordo fechado entre Estados Unidos, Irã, Reino Unido, Alemanha, França, China e Rússia, com apoio da ONU, em 2015, estabelecia um limite de 3,67% a que o país poderia enriquecer urânio. Entre 3% a 5% é o percentual de enriquecimento de urânio-235 usado para produção de energia. Pelo menos 90% é o enriquecimento usado em armas nucleares. Urânio com menor nível de enriquecimento também pode ser usado para produção bélica, mas quanto menor a taxa de enriquecimento, mais urânio é necessário.
Como acordo, os países concordaram em suspender a maior parte das sanções contra o Irã, e o país pôde acessar US$ 100 bilhões que estavam congelados. Em 2018, o presidente Donald Trump anunciou que estava se retirando do acordo porque entendia que o Irã não estava respeitando o tratado. Os EUA voltaram a impor sanções internacionais ao país do Golfo, mesmo que a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) dissesse que o governo iraniano ainda seguia os postulados do acerto. Depois do ataque de sexta-feira (3), que matou o general Qassem Soleimani, o governo anunciou no domingo que não mais respeitará o tratado.
2 — O que é o enriquecimento de urânio?
É o processo no qual se aumenta a concentração do Urânio 235. O método mais usado são as centrífugas. O acordo de 2015 diminuiu em dois terços o número de centrífugas de enriquecimento de urânio do Irã e obrigou o país a reduzir seu estoque do material em 98%, para 300 kg. As principais instalações nucleares do país passaram a ter seu funcionamento limitado e a AIEA teve acesso ao país para inspeções.
3— Em quanto tempo o Irã pode ter uma bomba atômica?
Especialistas estimam em seis a 10 meses o tempo necessário para o Irã reunir um estoque de 25 quilos de urânio enriquecido a pelo menos 90% do isótopo 235, quantidade necessária para testar sua primeira bomba atômica. A estimativa é do Instituto para Ciência e Segurança Internacional (Isis), com base nos dados divulgados em novembro passado pela AIEA (leia aqui em inglês).
Os cientistas alertam que esse período pode ser ainda mais curto, dependendo da quantidade de urânio enriquecido não declarado, possivelmente armazenado em instalações militares, de acesso proibidos aos inspetores da AIEA.
4— Quais as chances de o Irã lançar uma bomba atômica?
Especialistas costumam dizer que ter a bomba atômica é uma coisa, possuir capacidade para lançá-la é outra. O Irã é conhecido pela capacidades de seus mísseis, peça-chave de suas proezas militares dada a relativa falta de poder aéreo em comparação com rivais como Israel e Arábia Saudita. Seus mísseis de curto e médio alcance têm capacidade para atingir qualquer nação do Oriente Médio – não há, por enquanto, capacidade de atingir a Europa Ocidental ou os Estados Unidos. O programa de mísseis de longo alcance foi paralisado pelo Irã como parte do acordo de 2015 – algo que provavelmente está sendo revisto a partir da eliminação do general.
Uma vez que o Irã tenha urânio suficiente para um núcleo, ele terá que converter esse urânio de gás em metal, encaixá-lo com um pacote explosivo que possa provocar a reação de fissão e montá-lo em um míssil balístico. Não se sabe se o país detém essa tecnologia.
5— Quais países têm armas atômicas?
De acordo com um levantamento realizado pelo Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo (Sipri), nove países têm armas nucleares: os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas (Estados Unidos, Rússia, França, Reino Unido, China), Paquistão, Índia, Israel e Coreia do Norte. Estima-se que existam 14.465 ogivas espalhadas pelo mundo. Rússia e Estados Unidos possuem cerca de 92% dessas armas. Israel não admite mas também não nega dispor de arsenal atômico. A Coreia do Norte é a mais nova integrante do clube das potências nucleares, com número estimado de 10 a 20 ogivas.