A decisão americana de congelar todos os ativos de Nicolás Maduro, na prática, representa duas coisas:
1 — Donald Trump, depois de reiteradas vezes ter dito que "todas as opções estão sobre a mesa" — eufemismo utilizado pelos presidentes americanos para afirmar que a opção militar não é descartada —, optou, desta vez, pela pressão econômica. Isso não significa que estamos livres de uma intervenção armada no país vizinho, algo que tragaria a região para o caos. Mas o fato é que uma ação militar contra Maduro está cada vez mais distante no horizonte.
A Casa Branca está convencida de que um conflito nas suas barbas não é vantajoso. Não que a posição brasileira tenha sido decisiva — Trump nunca quis abrir um novo front global, no momento em que recua tropas americanas mundo afora. Mas a conversa com o presidente Jair Bolsonaro, ao pé do ouvido, durante o G20, como revelou o jornal Folha de S. Paulo, parece ter sido relevante para que o governo americano de desse dois passos atrás no tabuleiro de xadrez.
O presidente brasileiro deixou claro, acertadamente, que não teria como apoiar uma invasão. Um conflito na Venezuela exporia as Forças Armadas a um teatro de operações muito complexo, com geografia que favorece a guerra de guerrilha. Haveria retaliação. E não estamos psicologicamente preparados como nação — quem está? — para ver soldados voltando em caixões cobertos com a bandeira verde-amarela para o território nacional. Sem falar na condenação internacional e na reprovação de boa parte da opinião pública brasileira. Essa é a visão da ala militar do Planalto — que, felizmente, preponderou.
2 — A escolha pela retaliação econômica — e não militar — significa que a revolta liderada por Juan Guaidó até agora fracassou no terreno. Foram três tentativas sucessivas de derrubar o regime: primeiro, a autoproclamação, em 23 de janeiro; um mês depois, a atabalhoada tentativa de fazer entrar ajuda humanitária no país; e, em abril, a libertação de Leopoldo López e o anúncio — infeliz e não verdadeiro — de que a oposição tinha o apoio das principais unidades militares do país. Não tinha. Maduro balançou, mas a ditadura não caiu.
O que houve, então, com a rebelião? É o fim da era Guaidó? Não, necessariamente. A estratégia, agora, é pelo sufocamento econômico do regime. A Venezuela está em uma espécie de limbo, com os dois lados se observando mutuamente antes da próxima jogada.