Uma estudante gaúcha está retida em um centro para imigrantes ilegais nos Estados Unidos desde quinta-feira (15), depois de cruzar a fronteira com o México a passeio e tentar retornar para o território americano.
A jovem de 17 anos (GaúchaZH não publica o nome da garota por ser menor), de Cachoeira do Sul, passava férias na casa do tio, brasileiro com cidadania americana, que vive há mais de 20 anos no Texas. Segundo a família, ela chegou aos Estados Unidos no final de fevereiro, com visto de turista. Na semana passada, a jovem foi passear no México com os parentes, que vivem em Houston. Ao retornar, o veículo foi parado no posto de Progreso, fronteira com a cidade mexicana de Nuevo Progreso.
Conforme o pai, o auditor fiscal da Receita estadual, Marcelo Neto, 51 anos, as autoridades americanas alegaram irregularidades no visto da estudante. A jovem foi afastada da família.
— Pegaram ela do meu irmão e da minha cunhada. Ele não teve mais contato com ela. Ele ligou para mim na hora e disse: "Mano, emergência, estão tirando ela da gente". Meu mundo caiu — conta o pai.
Segundo ele, a garota foi classificada como imigrante ilegal. O primeiro contato com a filha só ocorreu 48 horas depois da retenção.
— Ficamos no escuro. Quase morremos. Imagina não saber onde tua filha está — diz.
A família ficou sabendo, por meio do Itamaraty, que a estudante estaria em um centro de Chicago, Estado de Illinois, a mais de 2 mil quilômetros do local da retenção. As autoridades também avisaram que a família receberia um telefonema "em algum momento":
— Desde quinta-feira, nunca mais tirei o telefone da minha orelha. Ficava com o olho aberto, esperando um telefonema de uma autoridade americana. Eu nem sabia o que tinha de fazer, se eu tinha de pegar um avião e rapidamente buscá-la ou se iriam colocá-la em uma avião e deportá-la.
A ligação veio no sábado (17). Na primeira vez em que se falaram, o pai descreve uma conversa "estranha":
— Uma ligação tensa, com intérprete. A gente cuidou muito o que falar, vá que eu falasse algo, e os caras interpretassem errado.
No domingo, Neto enviou um e-mail pedindo um novo contato. Houve o segundo e rápido telefonema, também monitorado. Pelo relato, a jovem está bem de saúde, embora assustada.
— Isso está me matando, está acabando comigo. Não existe a possibilidade de um pai dormir sabendo que tem uma filha em outro país sob leis que não se tem conhecimento ao certo. Se ela cometeu um erro, se o passaporte estava errado, ela já foi punida. Já não tem mais visto, direito de passear pelos EUA. Só quero minha filha de volta. Hoje é o quinto dia que não vou dormir — contou.
O pai explica que o visto de filha seria válido por 10 anos e que só expiraria dentro de três. Procurado, o Ministério das Relações Exteriores limitou-se a informar que acompanha o caso e "presta assistência consular cabível". Afirmou que não poderia fornecer mais informações "em respeito ao direito à privacidade dos envolvidos". GaúchaZH também procurou o consulado dos Estados Unidos em Porto Alegre, que afirmou que o tema deve ser tratado junto ao Customs and Border Protection Service (agência americana responsável pelas fronteiras).
Um relatório recente do Departamento de Segurança Nacional dos EUA revelou que o número de apreensões de pessoas na fronteira entre o Texas e o México chegou a 223.263 entre outubro de 2018 e maio de 2019. O dado representa aumento de 124% em relação ao mesmo período no ano anterior.
Das apreensões no período, quase 24 mil envolviam menores.