Há mais dúvidas do que certezas sobre o que vai ocorrer a partir de 31 de outubro, data em que, a se confirmarem as últimas previsões, o Reino Unido deve sair da União Europeia (UE) — a data já foi adiada duas vezes.
Entre as certezas: o país nunca aceitou o euro como moeda — mantendo sua poderosa libra, que, obviamente, vai continuar. Também não assinou o Tratado Schengen, que permite a nós, turistas, apresentarmos o passaporte uma vez só, ao entrarmos no espaço da UE e, a partir daí, pular de nação em nação sem termos de nos identificar de novo. Obviamente, isso também não vai mudar: continuaremos mostrando documentos ao aterrissar em Heathrow ou ao chegarmos de trem pelo Eurotúnel.
Entre a imensidão de dúvidas, uma delas foi esclarecida nesta segunda-feira (19) pelo novo primeiro-ministro britânico, Boris Johnson — e o anúncio não é nada bom para os cerca de 100 mil brasileiros que trabalham no país e que se valeram das regras de ascendência para se beneficiar do livre trânsito entre as fronteiras da UE. A maioria dos brasileiros que vive no Reino Unido e trabalha tem dupla cidadania (além da brasileira, de um país da UE) para ter direito de permanência.
O que o governo Johnson disse: a atual legislação que permite que os chamados cidadãos comunitários (que sejam oriundos dos países da UE, entre eles brasileiros com dupla-cidadania) vivam e trabalhem livremente no Reino Unido terminará. O porta-voz esclareceu que, diante de um hard Brexit, serão criadas novas leis "mais duras", que serão aplicadas às pessoas que se mudam para o país. Tudo indica que serão criados sistemas de pontos similares ao usado pela Austrália para controlar a imigração.
A se confirmar o recrudescimento das regras, ficaria bem pior, para os brasileiros, do que o negociado pela antecessora de Johnson, Theresa May. Sob acordo negociado com Bruxelas pela ex-premier, a livre circulação seria mantida durante o período de transição de dois anos.
A decisão de Johnson coloca no limbo cerca de 3,2 milhões de cidadãos dos outros 27 países do bloco. Se vai ficar ruim para os vizinhos europeus, imagine para quem é de fora? A fortaleza britânica, que nunca morreu de amores pelo resto do continente, começa a se fechar.