Em resposta à suspensão de repasses para o Fundo Amazônia pela Noruega, o presidente Jair Bolsonaro ironizou:
— A Noruega não é aquela que mata baleia lá em cima, no Polo Norte, não? Que explora petróleo também lá? Não tem nada a oferecer para nós. Pega a grana e ajuda a Angela Merkel (chanceler alemã) a reflorestar a Alemanha.
Apesar de, do ponto de vista diplomático, a frase do presidente ser pouco adequada à tradição das relações exteriores brasileiras, a Noruega, sim, mata baleias.
Junto com Islândia e Japão, a nação da Escandinávia questiona a moratória estabelecida em 1986 pela International Whaling Commission, IWC (Comissão Baleeira Internacional), que proíbe a pesca comercial desses animais.
Em setembro do ano passado, a Noruega foi um dos países que votaram a favor do fim da proibição na reunião da comissão, em Florianópolis. Acabou derrotada junto com as demais nações que defendiam a retomada da caça. O Brasil votou com a maioria pela manutenção da moratória.
Mesmo assim, a Noruega aproveita-se de brechas legais do regime internacional, questionando-o, para continuar caçando baleias. O consumo da carne é uma tradição no país, embora tenha diminuído bastante a venda do prato em restaurantes.
No ano passado, o país anunciou o aumento de 28% de sua cota anual de caça, até 1.278 exemplares, em uma tentativa de estimular a indústria. As autoridades argumentam que, há anos, os baleeiros não atingem as cotas estabelecidas pelo governo.
A caça foi retomada em 1993. Além do hábito de consumo, um dos argumentos do governo que o país detém quantidades grandes de baleias em seus mares — mais de 100 mil exemplares da espécie minke, segundo autoridades.
Em 2017, um documentário exibido pela rede de TV pública da Noruega, a NRK, chocou boa parte da população e indignou ambientalistas. Intitulado Dag Myklebust, o trabalho revelou que 90% de todas as baleias minke mortas por ano no país são fêmeas e quase todas estavam grávidas.
E a Alemanha precisa ser reflorestada?
Nesta sexta-feira (16), a embaixada da Alemanha no Brasil publicou em sua página no Facebook um vídeo respondendo ao presidente: "Você sabia que a Alemanha é um dos países mais florestados da Europa? As florestas alemãs são destinos turísticos imperdíveis", diz a chamada.
A Alemanha é conhecida pelo pioneirismo na política ambiental e se destaca internacionalmente na proteção do clima. É também pioneira na ampliação das energias alternativas, há décadas reduzindo suas emissões de gases poluentes e abrindo mão de combustíveis fósseis. Basta se deslocar pelo país para observar como o uso de energia limpa é popular: com painéis solares em fábricas e residências. Também são comuns os cenários com aerogeradores para produzir energia a partir do vento.
O país tem um plano de abandono sucessivo da energia nuclear até 2022. Até 2030, as emissões de gases do efeito estufa devem ser reduzidas em 55 % em relação a 1990, com a intenção de alcançar no mínimo 70% até 2040.