SÃO PAULO, SP, E MANAUS, AM (FOLHAPRESS) - O ministro do Clima e Meio Ambiente da Noruega, Ola Elvestuen, anunciou nesta quinta (15) que a Noruega suspenderá R$ 133 milhões que seriam destinados para o Fundo Amazônia. Segundo Elvestuen, que se diz preocupado com o aumento do desmatamento, o Brasil quebrou acordo com o país e com a Alemanha ao extinguir conselhos que orientam o fundo.
A Alemanha também anunciou, no último sábado (10), que suspenderia mais de R$ 150 milhões do financiamento de proteção ambiental para o Brasil por conta do aumento no desmatamento.
Em nota, a Embaixada da Noruega diz que, considerando a dissolução dos conselhos que compõem o fundo, não há "fundamento jurídico e técnico para realizar a contribuição anual" ao fundo.
As declarações do ministro, dadas ao jornal Dagens Næringsliv, e da embaixada dizem respeito ao decreto do presidente Jair Bolsonaro (PSL), de maio, que extinguiu órgãos colegiados da administração pública federal, entre eles os que ordenavam o Fundo Amazônia, o Comitê Orientador do Fundo Amazônia (Cofa) e o Comitê Técnico do Fundo Amazônia (CTFA).
Alguns conselhos extintos foram recriados, mas, para surpresa da Noruega e da Alemanha, o comitê do fundo ficou de fora. Elvestuen diz que os números do desmate estão crescendo significativamente e que o Brasil aparenta não querer parar a destruição.
"A Noruega congelou o seu apoio porque o Brasil descumpriu a sua parte ao não manter o Cofa", diz à reportagem Øyvind Eggen, da ONG Rainforest Foundation Norway (RFN).
O modelo de governança do Cofa era formado por três blocos: governo federal, governos estaduais e sociedade civil --incluindo ONGs, criticadas pelo governo Bolsonaro.
Segundo Eggen, a imagem do Brasil na Europa sofreu grande piora nas últimas semanas por causa do aumento no desmate na Amazônia. Ele diz que a má imagem de Bolsonaro já chegou às empresas. "Eles precisam de um governo previsível e também começam a se preocupar."
O desmatamento na Amazônia tem crescido de modo acentuado. A destruição em junho aumentou 88% e em julho 278%, em comparação aos mesmos meses de 2018, segundo dados do sistema Deter, do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).
O governo Bolsonaro tem criticado a divulgação dos dados de desmate e afirmado que eles podem prejudicar acordos comerciais. Contudo, as críticas do governo, em geral, não são amparadas por informações científicas.
Ao questionar os dados do desmate, Bolsonaro chegou a afirmar que Ricardo Galvão, então diretor do Inpe, poderia estar a "serviço de alguma ONG". Galvão se defendeu e fez a defesa da acurácia das informações de desmate. O governo vem falando ainda em sensacionalismo na divulgação dos dados e prejuízo da imagem internacional do Brasil.
O questionamento constante dos dados do desmatamento levou à exoneração, em 2 de agosto, de Ricardo Galvão. Assumiu, então, como diretor interino do Inpe, Darcton Damião, militar da Força Aérea com mestrado no Inpe e doutorado em desenvolvimento sustentável na UnB.
A relação entre o Brasil e países europeus que dão recursos para proteção do ambiente tem se deteriorado desde o início da gestão Bolsonaro.
Na última semana, em audiência no Senado, Ricardo Salles, ministro do Meio Ambiente do Brasil, criticou a Noruega: "A Noruega, que é o principal doador do Fundo Amazônia, é o país que explora petróleo no Ártico, e vem criticar ou colocar o argumento da exploração de petróleo na foz do [rio] Amazonas. Eles exploram no Ártico. Eles caçam baleia. E colocam no Brasil essa carga toda, distorcendo a discussão ambiental".
A chanceler alemã, Angela Merkel, já afirmou ver com grande preocupação as ações do atual governo em relação ao desmatamento.
Após o anúncio do corte de verba alemãs para a Amazônia, Bolsonaro agiu com ironia, falou que o Brasil não precisava do dinheiro e que Merkel deveria usar o dinheiro para reflorestar a Alemanha.
Também há preocupação por parte do presidente francês, Emmanuel Macron, que colocou a permanência do Brasil no Acordo de Paris como condição para concretização de acordos comerciais. O governo da França também espera ações concretas do Brasil quanto a questões ambientais, o que, caso contrário, poderia dificultar a relações comerciais entre União Europeia e o Mercosul.