Dois dos principais vazamentos a abalar Brasil e Estados Unidos na história recente tiveram The Intercept e o jornalista Glenn Greenwald como protagonistas. A versão brasileira do site que expôs as trocas de mensagens entre o então juiz Sergio Moro e procuradores da Lava-Jato foi lançada em agosto de 2016, mas a página ganhou relevância internacional três anos antes, como plataforma para divulgação dos documentos vazados pelo ex-funcionário da Agência de Segurança Nacional (NSA) Edward Snowden.
Pelas páginas virtuais de The Intercept — à época em parceria com veículos de comunicação tradicionais, como The Guardian —, o mundo ficou sabendo que os Estados Unidos haviam montado uma rede para coletar informações eletrônicas (e-mails, telefonemas, SMS e redes sociais) de cidadãos comuns.
Perdemos a inocência e nunca mais olhamos para a câmera de nossos notebooks e smartphones sem imaginar que alguém em Washington ou no Vale do Silício poderia estar bisbilhotando. Eu, você, seu vizinho, somos monitorados em tempo real, segundo Snowden. Mas não só nós, também havia a comprovação de que chefes de Estado e de governo de nações aliadas dos americanos haviam sido vítimas de espionagem. As relações entre países amigos foram estremecidas e até os tradicionais tapinhas nas costas de Barack Obama aos colegas passaram a ser vistos com desconfiança.
No Brasil, o impacto também abalou as relações — nem sempre amistosas — do então governo do PT com a Casa Branca. Os dados mostravam que estatais, como a Petrobras, haviam sido espionadas e conversas da presidente Dilma Rousseff com ministros tinham sido monitoradas. Dilma protestou, cancelou viagem aos EUA e encontro com Obama; Snowden virou persona non grata em território americano e foi obrigado se refugiar na Rússia; e The Intercept e Greenwald foram projetados ao estrelato internacional do jornalismo.
Nascido no Queens, em Nova York, o jornalista de 52 anos fora contatado por Snowden em 2012 quando trabalhava no The Guardian. Greenwald, que também é advogado especializado em Direito Constitucional, recebeu vários prêmios no Brasil e no Exterior por expor as entranhas da NSA, entre eles o Esso de Excelência em Reportagens Investigativas e o Pulitzer de 2014 na categoria Serviço Público. Junto com a também americana Laura Poitras, foi indicado pela revista Foreign Policy como um dos cem principais pensadores globais de 2013. Atualmente, o jornalista mora no Rio de Janeiro e é casado há 13 anos com David Miranda, deputado do PSOL que assumiu o posto de Jean Wyllys na Câmara.
The Intercept pertence à First Look Media, organização criada e financiada por Pierre Omidyar, fundador da empresa de comércio eletrônico eBay. A companhia, um dos maiores shoppings da internet, apresenta-se como de "espírito ousado e independente, do jornalismo que responsabiliza os poderosos, às artes e entretenimento que moldam nossa cultura". Conforme o site, a First Look Media baseia-se na crença de que a liberdade de expressão e de imprensa são vitais para uma democracia saudável e uma cultura vibrante. No site da companhia, o fundador afirma:
— Nossa nação é mais forte quando protegemos os direitos dos indivíduos de falar o que pensam, associar-se com quem quiserem e criticar seu governo e outros no poder.
Além de Greenwald e Laura, Jeremy Scahill, jornalista investigativo especialista em assuntos de segurança nacional, lidera o projeto The Intercept.
Jeremy é autor do livro Blackwater: The Rise of the World's Most Powerful Mercenary Army (Blackwater — A ascensão do exército mercenário mais poderoso do mundo). A obra, lançada no Brasil em 2008, revelou os interesses da empresa americana de segurança que se transformou em um exército de mercenários paralelo à ação das forças armadas dos EUA no Iraque. A versão brasileira do site conta com uma redação formada por 18 profissionais, entre eles o editor executivo Leandro Demori.