A Indonésia desbancou a Arábia Saudita e tornou-se o segundo principal destino de armas e munições brasileiras, atrás apenas dos Estados Unidos.
Conforme dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, entre janeiro e maio de 2019, o Brasil vendeu US$ 35,5 milhões em material bélico para o país do Sudeste Asiático, o que representa 21,7% das exportações totais do arsenal fabricado em território nacional.
As vendas foram feitas pela Avibras Indústria Aeroespacial, com sede em São José dos Campos, São Paulo. A parceria com os indonésios ganha corpo.
Em fevereiro, uma delegação de alto nível, incluindo o vice-chefe do Estado-Maior do exército indonésio, general Tatang Sulaiman, visitou a fábrica da Avibras para negociar a obtenção da tecnologia de fabricação dos foguetes do MLRS (Multiple Launch Rocket System) Astros II, conhecida arma de artilharia de saturação de área. Na ocasião, o oficial foi apresentado ao projeto do míssil de cruzeiro que a Avibras também tenta vender aos indonésios.
Os negócios militares não param por aí. A fabricante estatal de armamentos indonésia PT Pindad obteve recentemente licença da companhia paulista para fabricar dois itens vitais do Sistema Astros II: a munição anti-pessoal e anti-blindagem SS-80 (foguetes) e o veículo lançador de foguetes AV-LMU (Lançadora Múltipla Universal). Foi a primeira vez em quatro décadas que a companhia deu permissão desse tipo a uma empresa estrangeira _ o Iraque chegou a tentar no passado, mas as negociações não avançaram.
Outro dado curioso é a redução das vendas para a Arábia Saudita, que, em 2017, chegou a ser o principal comprador de armamentos e munição brasileira. Nos cinco primeiros meses de 2019, o país do Oriente Médio acusado de violações de direitos humanos no conflito no Iêmen comprou US$ 20,8 milhões em armas e munições, em especial da AEQ Aeroespacial, empresa com sede em Quatro Barras, no Paraná. Dois anos atrás, o aumento do comércio com o país árabe coincidia com o início da guerra civil no país _ e passou de US$ 195,76 milhões.
Após a morte do jornalista Jamal Khashoggi dentro do consulado saudita na Turquia, o parlamento europeu passou a pedir aos governos que integram a União Europeia (UE) que imponham embargo conjunto à venda de armas à Arábia Saudita. Nos Estados Unidos, senadores de diferentes partidos (inclusive republicanos) estão se mobilizando para bloquear o plano do presidente Donald Trump de vender armas para os sauditas e aliados. O pacote bélico custaria US$ 8,1 bilhões.
— Com o bloqueio, se for efetivado em um futuro próximo, possivelmente gerará movimento contrário, com tendência de crescimento de vendas brasileiras para a Arábia Saudita — avalia Jefferson Nascimento, da ONG Conectas Direitos Humanos.
No mês passado, o governo Trump disse que usaria poderes especiais para desafiar o Congresso e fornecer munição, manutenção de aeronaves e outros componentes militares para Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos. A medida enfureceu os legisladores, que acreditam que o arsenal poderia ser usado para matar civis no Iêmen, onde a Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos lideram uma ofensiva.
Aliás, os Estados Unidos retomaram a primeira posição como principais compradores de armas do Brasil, no ano passado. Hoje, representam 41,4% do total vendido pelo país. Entre janeiro e maio deste ano, foram comercializados cerca de US$ 67,6 milhões, em especial por Taurus/CBC.