Armas de fragmentação fabricadas no Brasil estariam sendo usadas pelas forças lideradas pela Arábia Saudita no Iêmen. A denúncia é da organização de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch, que identificou resquícios de foguetes superfície-superfície, lançados a partir de sistemas da família Astros II, em um ataque próximo a duas escolas do bairro de Al-Dhubat, em Saada, no Iêmen. Na ação, em 6 de dezembro, duas pessoas morreram e outras seis ficaram feridas, entre elas uma criança.
Fabricados pela Avibrás Indústra Aeroespacial, com sede em São Paulo, os foguetes são disparados por um caminhão lançador. Cada armamento contém 65 submunições, – por isso são chamados de "fragmentação" ou "cluster".
Esse tipo de munição foi banida por vários países. A Arábia Saudita e o Bahrein, entretanto, ainda compram Astros II do Brasil.
Segundo Steve Goose, diretor da divisão de armas da Human Rights Watch e presidente da Coalizão Contra Munições Cluster (CMC), "os brasileiros precisam saber que foguetes produzidos no país estão sendo usados em ataques ilegais na guerra do Iêmen",
– As munições cluster são armas banidas internacionalmente que nunca deveriam ser usadas, em quaisquer que sejam as circunstâncias, devido ao dano infligido aos civis. O Brasil deveria se comprometer imediatamente a não mais produzir ou exportar essas munições – afirmou em comunicado distribuído pela Human Right Watch.
Iêmen, Arábia Saudita, Brasil e os Estados Unidos se abstiveram na votação da Assembleia Geral das Nações Unidas sobre a proibição internacional desse tipo de armas. A medida foi aprovada de forma esmagadora. Antes da HRW, a Anistia International havia identificado resquícios de foguetes Astros, após um ataque à Ahma em Saada, em 27 de outubro de 2015, que feriu pelo menos quatro pessoas. O uso também foi comum durante a Guerra do Golfo, em 1991.
Desde 26 de março de 2015, uma coalizão formada por forças de nove Estados árabes, liderada pela Arábia Saudita, vem realizando operações militares contra a etnia Houthi, que integra o grupo Ansar Allah, que luta contra o governo no poder no Iêmen.