Desta quinta-feira (23) até domingo (26), o mais exitoso processo de integração da História, a União Europeia, será colocado à prova. O Velho Continente chegará às eleições para o parlamento do bloco de forma cambaleante, abalado pela novela sem fim e a angústia do dia seguinte ao Brexit (se ele de fato ocorrer). Também será a primeira votação em nível continental após as ondas migratórias que chegaram à Europa vindas do Oriente Médio e do norte da África e que reergueram barreiras e colocaram em xeque a noção de livre-circulação no Espaço Schengen.
O pleito também ocorre em meio ao crescimento de forças de extrema-direita eurofóbicas. Mesmo na Espanha, onde os socialistas venceram a eleição, em abril, legendas ultraconservadoras avançaram. No país, por exemplo, o Vox chegou ao parlamento, conduzindo pela primeira vez desde o fim da ditadura franquista a extrema-direita ao Legislativo. Com diferentes matizes e nomenclaturas, uniões políticas que pregam uma Europa menos integrada – e mais nacionalista – avançam na Itália, na Holanda, na Hungria, na Áustria e na Alemanha.
A eleição vai definir a balança de forças entre direita e esquerda e seus extremos. Atualmente, o poder no parlamento é compartilhado entre o Partido Popular Europeu (PPE), de centro-direita, e os Socialistas e Democratas (S&D), de centro-esquerda.
Só por esses elementos, a disputa já seria importantíssima para o mundo. Mas há mais em jogo.
O pleito, que elegerá 751 deputados (serão 705 quando o Reino Unido sair – e se sair), definirá os rumos do continente – de questões comezinhas para os cidadãos dos 28 países membros até assuntos geopolíticos de alto impacto e caros ao planeta, como a imigração, a relação com os Estados Unidos, a Rússia, a América Latina – e o Brasil.
O parlamento europeu é o único organismo da União Europeia diretamente eleito por cidadãos. Trata-se de um dos três órgãos do bloco supranacional – junto ao Conselho Europeu e Comissão Europeia.
Há ainda um capítulo particular da eleição deste ano: o drama do Brexit. Internamente, no Reino Unido, foi uma surpresa a decisão de o país participar do pleito já que a nação deveria ter saído da União Europeia em março. Theresa May ficou no cai-não-cai, e até um partido foi criado, o Brexit Party, na última hora, para aumentar a pressão sobre a primeira-ministra. Seu líder é figurinha carimbada da política britânica, o eurodeputado Nigel Farage. Ele foi um dos principais líderes do movimento que conseguiu que o Brexit fosse aprovado pela população no referendo de 2016.
Mal se lançou na campanha e já lidera as pesquisas – a legenda deve ocupar a maioria das cadeiras disponíveis aos deputados britânicos no parlamento europeu.
Os conservadores estão em quarto lugar, atrás do Partido do Brexit, dos trabalhistas e do Partido Liberal Democrata.
Isso significa mais pressão sobre May para que renuncie nas próximas semanas e caminho aberto para um divórcio litigioso com a União Europeia – ou seja, sem acordo algum.
Serão quatro dias que poderão abalar as estruturas da Europa do pós-guerra, moldada a partir dos escombros do pior conflito que o mundo já viu e cujo arranjo garantiu até agora que ele não se repetisse.