Quando Donald Trump fala grosso com a Venezuela, o Irã ou a Coreia do Norte quem, na verdade, está falando é John Bolton, um dos últimos falcões remanescentes da era George W. Bush no poder em Washington. O hoje conselheiro de Segurança Nacional foi um dos responsáveis por forjar relatórios mentirosos sobre a existência de armas de destruição em massa no Iraque em 2003 – um dos argumentos falaciosos para a derrubada de Saddam Hussein.
Os republicamos ficaram afastados da Casa Branca por oito anos, mas, com o retorno pelas mãos de Trump, em 2016, Bolton ressuscitou nos corredores do prédio da Avenida Pennsylvania, 1.600.
Aos 70 anos, Bolton está mais perigoso do que nunca. Modelo mais bem acabado da realpolitik, ele defende que, para se proteger e projetar poder, os Estados Unidos precisam ser agressivos e unilaterais. A famosa diplomacia do canhão.
Não por acaso há semelhanças entre suas frases e posições do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), que, em palestra na Escola Superior de Guerra, esta semana, afirmou que o Brasil seria levado mais a sério se tivesse bombas nucleares. Bolton é um dos homens de Trump mais admirados pela família Bolsonaro – o presidente o recebeu em casa na Barra da Tijuca e prestou continência ao americano.
A mente de Bolton está parada nos tempos da Guerra Fria. Por isso, não é de estranhar que um plano militar tenha chegado à mesa de Trump, caso decida iniciar uma guerra com o Irã. Não é do interesse do presidente iniciar um conflito – ao contrário, ele aprofundou a retirada americana do Oriente Médio, iniciada por Barack Obama, e acredita que é hora de os EUA gastarem dinheiro internamente e não bancando o xerife do mundo. Também por isso o sonho de consumo trumpiano para desbancar Nicolás Maduro do poder na Venezuela seria Brasil e Colômbia assumirem o comando da operação.
Fazer guerra é o negócio de Bolton. Após a derrubada de Saddam, seu plano era estender o conflito ao Irã, mas foi ignorado por Bush. Agora, o plano organizado pelo Pentágono, com o dedo de Bolton, prevê o envio de até 120 mil soldados à região caso o Irã ataque forças americanas ou avance seu programa nuclear. O efetivo é equivalente ao usado no Iraque.
Em sinal de recrudescimento da crise, o Departamento de Estado ordenou nesta quarta-feira (15) a saída de todos os funcionários considerados não essenciais da embaixada em Bagdá e do consulado em Erbil, área mais próxima da fronteira com o Irã e alvo potencial de um eventual ataque dos aiatolás.