Apesar de os Estados Unidos e alguns integrantes do Grupo de Lima dizerem que todas as opções estão sobre a mesa em relação à Venezuela, nos bastidores a conversa é outra. Ninguém quer ultrapassar a linha vermelha.
Esse é o sinal emitido a partir de Bogotá dos líderes que se reuniram nesta segunda-feira (25) na capital colombiana ainda sob a nuvem do gás lacrimogêneo dos incidentes do fim de semana nas fronteiras venezuelanas. Há consenso sobre aumentar a pressão sobre o regime de Nicolás Maduro, mas sem que tenham de avançar para uma intervenção militar — uma conta em vidas e principalmente em cifras que ninguém quer bancar. Nem mesmo os Estados Unidos.
A Casa Branca planeja pressionar cada vez mais a estrutura de poder do líder venezuelano usando, por enquanto, a arma do dinheiro. O foco é utilizar sanções econômicas, politizar a entrega — ou os impeditivos — da ajuda humanitária e elevar a pressão. A ideia é evitar dar munição a Maduro em seu argumento de que os inimigos "querem o petróleo venezuelano".
Entre os latino-americanos, a maré do "não à intervenção" une até polos opostos do governo Jair Bolsonaro, que despachou para a Colômbia dois negociadores com visões de política externa divergentes: os gaúchos Hamilton Mourão e Ernesto Araújo. Voz racional do Planalto, o vice é talhado pela experiência em missões de paz, como observador da ONU em Angola, e conhece por dentro a Venezuela, nos dois anos em que foi adido militar em Caracas (2002-2004) durante o governo Hugo Chávez. Isso lhe dá uma perspectiva internacionalista do problema, o que é positivo para uma solução negociada.
Araújo, ao contrário, integra o núcleo ideológico do governo, daqueles que imaginam um conluio mundial financiado por elites progressistas para chegar ao poder e colocar em prática uma agenda de esquerda mundo afora — o tal "globalismo". Mas, mesmo para um fã de carteirinha de Donald Trump como Araújo, a intervenção militar com participação brasileira não é solução.
Juan Guaidó pediu que a comunidade internacional mantenha todas as cartas sobre a mesa ao se referir às opções para resolver a crise. Mas nem EUA nem os parceiros latinos do Grupo de Lima parecem ter uma estratégia a curto ou médio prazo para tirar Maduro do poder. "Todas as opções sobre a mesa", como os presidentes americanos gostam de dizer — em geral, para avisar que a opção militar é uma delas —, dependendo do ponto de vista, pode significar nenhuma.