Nicolás Maduro foi o grande vencedor do 23F, como a oposição chamou o sábado, 23 de fevereiro de 2019. Por três razões simples:
1 - O governo não caiu. Na verdade, pouco balançou.
2 - Houve protestos internos, confrontos nas fronteiras com Brasil e Colômbia, mas a Venezuela não está em chamas. Não há uma comoção geral em torno dos clamores da oposição de Juan Guaidó nem um grito uniforme contra a ditadura.
3 - A ajuda humanitária prometida não entrou no país. Dois caminhões que conseguiram chegar ao território venezuelano com comida e medicamentos foram incendiados. Aliás, alguns poucos caminhões posicionados nas fronteiras - dois pequenos veículos do lado brasileiro, por exemplo - dão argumentos para se pensar que o ato era mais simbólico do que capaz de matar a fome dos venezuelanos.
Esses três pontos nos levam a concluir que Guaidó perdeu e Maduro ganhou. O que nos leva a uma dúvida: o que vai acontecer agora com a Venezuela, o país que, há um mês e um dia, tem dois presidentes?
Guaidó, que vai participar nesta segunda-feira (25) da reunião do Grupo de Lima, na Colômbia, pediu que a comunidade internacional mantenha “todas as cartas” sobre a mesa. Em outras palavras, o que ele quer dizer é o seguinte: “a opção militar deve ser analisada”.
Aí, esbarra-se em um problema. Não é do interesse do governo dos Estados Unidos envolver as tropas americanas em novo conflito. Pelo contrário, Donald Trump tem retirado os militares de zonas de guerra mundo afora. Por que é bom e está preocupado com a saúde de seus homens e mulheres? Não. Porque é muito caro mantê-los lá fora. Maduro preocupa a Casa Branca? Sim. A Venezuela é um foco de desestabilização no quintal americano? Sim. Vamos fazer de tudo para derrubá-lo? Não. Este é o pensamento trumpiano.
Descartada uma invasão americana, qual seria a segunda opção de uso da força? Induzir aliados, Colômbia e Brasil a fazer o serviço sujo, no jargão das relações internacionais a chamada guerra por procuração. Acho que Iván Duque não cairia nessa. Quanto ao Brasil, posso garantir que não é da tradição diplomática do Itamaraty nem do interesse dos generais de Jair Bolsonaro entrar em conflitos bélicos com vizinhos.
Isso nos leva a uma terceira opção: armar a oposição, como os EUA fizeram no Afeganistão, por exemplo com a Aliança do Norte. Esta é outra saída pouco provável. A oposição na Venezuela, liderada por Guaidó, tem se posicionado como um grupo democrático, que promete transição pacífica e, a todo momento, garante que não quer derramamento de sangue. Não se trata de guerrilheiros como os da Aliança do Norte afegã, acostumados ao conflito. Também desconfio da disposição dos simpatizantes da oposição - cidadão simples, cansados da situação, alguns desempregados e com fome - de pegar em armas contra Maduro.
Guaidó perdeu a segunda chance de derrubar o regime - a primeira foi em 23 de janeiro, quando não o fez porque não tinha a seu lado o poder militar, como, aliás, continua não tendo. E, a cada minuto que passa, ele perde o “momentum”, o timing. O noticiário internacional, no início da semana, começará, aos poucos, a ser dominado pelo encontro entre Trump e Kim Jong-un, no Vietnã. Sem os olhos e ouvidos da mídia internacional voltados para a Venezuela, a oposição ficará estagnada no tabuleiro. Isso se não andar para trás.