Espaço aéreo e fronteiras fechadas. A Venezuela acorda, neste sábado, como uma ilha, isolada do resto do mundo. Talvez nem Hugo Chávez, padrinho político de Nicolás Maduro, tenha imaginado um cenário como esse. O país está mais fechado do que a própria Cuba, “paraíso” sonhado pelo líder bolivariano e seus asseclas. Só que, enquanto se ocupavam de transformar a Venezuela em uma Cuba, Chávez e Maduro deixaram escapar a percepção de que a ilha dos Castro estava mudando. A Venezuela parou no tempo, andou para trás, virou uma Coreia do Norte — e olha que até Kim Jong-un anda olhando pra fora.
Sob o argumento de que o envio da ajuda humanitária é o pretexto para derrubá-lo — e há razões para Maduro pensar assim —, o líder venezuelano isolou seu país por terra, água e ar. Porém, há fissuras no reino de Maduro.
Na sexta-feira, mesmo com fronteiras fechadas, alguns venezuelanos cruzavam para o lado brasileiro por vias alternativas, pelo campo.
Observo a fronteira entre Brasil e Venezuela nesses dias e lembro da Líbia sob os ventos da Primavera Árabe. Também lá testemunhei, como enviado especial do Grupo RBS, cidadãos fugindo do regime do tirano Muammar Kadafi. Levavam nas malas o que havia sobrado de suas vidas.
A fronteira com a Tunísia estava fechada naquele fevereiro de 2011. Seis meses depois, o cerco caiu. Os militares que não haviam sido mortos pelos rebeldes, com apoio externo, baixaram as armas. Desertaram. Kadafi, o ex-todo-poderoso senhor do deserto, era caçado e linchado diante de câmeras para o mundo ver.
A mão forte de Maduro vai durar até que o primeiro militar venezuelano se negue a obedecer a suas ordens diante de cidadãos vindo em sua direção, com comida e remédios nos braços. E isso pode acontecer a qualquer momento.
Não desejo a morte para Maduro. Pelo contrário, ele deve ser julgado pelos venezuelanos pelos crimes que está cometendo contra sua própria população. O ditador caribenho está a cada minuto mais sozinho. Se continuar apegado ao poder, enclausurado no Miraflores, corre o risco de acabar como Kadafi.