A fronteira da Venezuela com o Brasil na cidade de Pacaraima, em Roraima, permanece fechada nesta sexta-feira (22). Seguindo ordem do presidente Nicolás Maduro, militares do país vizinho impedem o fluxo de veículos e de pedestres desde a noite de quinta-feira (21).
Para driblar o bloqueio e conseguir ingressar no Brasil, diversos grupos de venezuelanos usavam caminhos alternativos, as chamadas "trincheiras". São trilhas por trás de morros que ficam no entorno do posto de fiscalização.
Contudo, por volta das 9h40min (pelo horário de Brasília), autoridades reforçaram o policiamento e fecharam essas passagens. Tiros de alerta chegaram a ser disparados pelos militares venezuelanos.
Preocupada com a decisão de Maduro de negar o ingresso de caminhões com ajuda humanitária de outros países, a advogada Greyza Farias Noriega, 25 anos, deixou o seu país e decidiu tentar a vida no Brasil. Ela conseguiu cruzar a fronteira no começo da manhã desta sexta, utilizando um dos desvios.
Em tratamento contra um câncer, disse que não estava recebendo atendimento médico e relatou um ambiente de "caos" nos hospitais locais.
— No hospital onde uma amiga está recebendo tratamento, 30 crianças morreram, nos últimos 10 dias, de desnutrição — relatou, referindo-se a uma unidade hospitalar de Maturín, sua cidade natal.
Segundo Greyza, a falta de medicamentos, alimentos e produtos de higiene se agrava a cada dia na Venezuela. A decisão de sair do país já havia sido tomada há meses, mas ela aguardava o término do curso de Direito antes de migrar e tentar viver em São Paulo.
Apesar das restrições da Guarda Venezuelana, famílias formadas por adultos, idosos e crianças seguiam a mesma estratégia da jovem advogada na manhã desta sexta: deixar outros familiares, carreiras e pertences para trás em busca de novas oportunidades fora da Venezuela.
Desabastecimento
Diante do fechamento da fronteira, uma das principais preocupações de brasileiros e venezuelanos é com o abastecimento de combustível e de alimentos. Em Pacaraima, não há postos para abastecer os veículos, já que na cidade de Santa Elena, no lado venezuelano, o litro da gasolina custa em torno de R$ 1,50.
A solução citada por motoristas ouvidos por GaúchaZH seria rodar cerca de 200 quilômetros para ir até a capital roraimense, Boa Vista, onde o litro gira em torno de R$ 3,80.
Já os venezuelanos estão preocupados com a falta de alimentos, remédios e produtos de higiene. Horas antes do fechamento da fronteira, o comércio de Pacaraima registou aumento do fluxo de venezuelanos em busca de suprimentos.
Em entrevista ao Gaúcha Atualidade, da Rádio Gaúcha, o governador de Roraima, Antonio Denarium, alertou para os prejuízos econômicos que a região pode enfrentar após a decisão de Maduro. Segundo ele, o Estado é único do Brasil que não é interligado ao sistema elétrico nacional e cujo abastecimento dependente do país vizinho.
Além disso, o governador enfatiza que as relações comerciais podem ser afetadas. Roraima é exportador de alimentos para a Venezuela.
— Eu não digo que vai chegar no extremo de uma guerra. Os dois países não têm motivo para entrar numa guerra, porque não se está disputando nada. O que se está disputando é o regime político — disse.