Uma das áreas mais afetadas pela inundação que castigou o Estado, o ramo de alimentação fora de casa aposta nos eventos e festejos de fim de ano para acelerar a recuperação. Dados da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) no Rio Grande do Sul apontam que pouco mais de um terço da categoria pretende contratar novos funcionários para suportar o aumento de demanda previsto para a reta final de 2024.
A estimativa ocorre em um ambiente no qual o setor acumula saldo positivo nas contratações nos últimos três meses, tentando diminuir o total de vagas fechadas no pico da enchente. Aquecimento sazonal da atividade, pagamento do 13º salário e chegada das temperaturas mais elevadas são alguns dos fatores que ajudam a explicar esse otimismo, segundo especialistas e integrantes do segmento.
O mais recente levantamento divulgado pela Abrasel, na semana passada, aponta que 38% dos proprietários de bares e restaurantes pretendem contratar novos colaboradores para atender à demanda de fim de ano. A pesquisa aborda vagas no geral, sem especificar se são temporárias ou fixas. Além disso, o estudo mostra que 65% das empresas do setor esperam aumentar o volume de vendas no período de festas. A presidente da Abrasel no RS, Maria Fernanda Tartoni, destaca que os aspectos sazonais ligados aos últimos meses do ano explicam esse cenário:
— Tem 13º entrando no mercado. Isso tudo faz com que as pessoas saiam mais à rua. O próprio calor também ajuda bastante. E os momentos de celebração que a gente acaba tendo.
Maria Fernanda afirma que a procura por profissionais se espalha pelas diversas áreas de atuação. No entanto, destaca que a procura é maior por profissionais que trabalham na cozinha.
O economista-chefe da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Porto Alegre, Oscar Frank, cita que existem vetores positivos e negativos atuando no setor de bares e restaurantes neste momento. Na parte otimista, afirma que, além dos aspectos sazonais do final do ano e da melhora no mercado de trabalho, recuperação de pontos de infraestrutura afetados pela inundação diminuem um pouco da pressão sobre o ramo de alimentação fora de casa:
— Temos também a diminuição dos gargalos provocados pela enchente, como a volta do Aeroporto Salgado Filho, a diminuição do número de bloqueios nas estradas. Então, esses são aspectos que são relevantes.
Um dos estabelecimentos que passa por essa situação de busca por funcionários é o Mark Hamburgueria. Proprietário da empresa, Mark Bandeira afirma que tem pelo menos 10 vagas abertas em quatro das cinco unidades da rede, localizadas em Porto Alegre. Bandeira diz que a dificuldade em contratar é observada há cerca de dois anos, mas costuma intensificar na reta final do ano diante das reservas para confraternizações.
— Não estou conseguindo contratar em todos os setores. Tenho vaga para gerente, auxiliar de cozinha, cozinheiro, atendimento — relata.
O levantamento da Abrasel aponta que metade dos negócios estima manter o quadro atual de funcionários. Já a parcela que não descarta demissões é menor, como mostra o gráfico abaixo.
Retomada ainda esbarra em endividamento
Dados do Novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) apontam que o grupo de bares e restaurantes ainda tenta recuperar as vagas perdidas no período da inundação no Estado. No acumulado de maio e junho, no auge da tragédia, os serviços de alimentação fecharam 3.176 postos com carteira assinada. No entanto, engatou recuperação nos meses seguintes, concentrando a abertura de 1.745 vagas. Ou seja, recuperou apenas pouco mais da metade dos contratos destruídos.
Parte desse cenário pode ser atribuída aos problemas que o segmento ainda carrega da pandemia e da enchente. A pesquisa da Abrasel mostra que 36% das empresas registraram prejuízo em setembro. Outras 29% conseguiram manter-se em equilíbrio e 35% lucraram. O endividamento também segue pressionando, com 33% das empresas relatando dívidas em atraso.
— A gente acredita que esse final de ano vai ser extremamente importante para dar aquele fôlego final para quem tentou se recuperar e para quem vai encarar mais alguns anos no setor, depois de tudo o que tem acontecido — afirma a presidente da Abrasel no Estado.
Na parte dos pontos que ancoram avanço mais expressivo do setor, o economista-chefe da CDL Porto Alegre cita a antecipação de benefícios no socorro ao Estado no pós-inundação. Com isso, algumas pessoas já gastaram parte da verba que costuma ser disponibilizada nesta época do ano, diminuindo poder aquisitivo, segundo Frank:
— Provavelmente muitos consumidores, muitas famílias vão ter menos dinheiro nesse final do ano e o setor de bares e restaurantes vai ter de ser criativo justamente para atrair essa clientela.